GAZETA DO POVO - PR - 07/07
As redes sociais se divertem fazendo piadas a respeito da ascensão e queda de Eike Batista, o dono de uma fortuna de mais de R$ 70 bilhões que derreteu rapidamente quando o castelo de cartas que havia montado – composto de uma empresa para extrair petróleo, outra para fabricar as plataformas marítimas para a primeira, uma grande mineradora para explorar minas no interior e um superporto para embarcar o minério extraído, uma geradora de energia elétrica para fornecer eletricidade aos seus outros empreendimentos, além de adereços icônicos como o histórico Hotel Glória, a administração do Estádio do Maracanã e outros badulaques – começou a desabar.
A crueldade popular nesses casos é infinita, ainda mais quando o alvo é alguém com traços de magalomania e exibicionismo, como a obsessão de ser a pessoa mais rica do mundo e (segundo a imprensa) manter seu carro ultraluxuoso estacionado dentro de sua sala de estar para contemplação dos basbaques. Segundo as versões mais recentes dos sites criados apenas para atazanar o empresário (Eike Gente como a Gente e outros), ele já foi visto tomando café em copo de geleia, esquentando a ponta da caneta Montblanc com isqueiro para fazer a tinta durar mais, fazendo um crediário com entrada só para depois do Natal para comprar um terno novo, pedindo pizza em um site de compras coletivas com 56% de desconto, usando vale-refeição em um restaurante por quilo e usando camiseta de campanha política como paletó de pijama. Um dos sarristas se gaba de ter recusado uma proposta de amizade do ex-magnata no “Feice”, pois já tem amigos pobres o suficiente...
Analisar agora as razões que levaram as empresas Xis à crise é ocioso e fácil, pois se trata de chutar um leão morto, mas já há muito tempo Eike gerava desconfianças entre especialistas quanto à viabilidade de seus negócios. Ao mesmo tempo, teve poder de convencimento e influência política de sobra para atrair bilhões de dólares em suas aberturas de capital. Um analista financeiro internacional fez um comentário irônico: Eike foi quem mais ganhou dinheiro com o Power Point, depois de Bill Gates, dono da Microsoft. Para quem não sabe ou não se lembra, Power Point é o nome do programa de computador usado para preparar apresentações, referindo-se ao fato de que o empresário brasileiro não tinha mais que uma coleção de slides e promessas róseas para atrair investidores e empresários internacionais supostamente calejados para seus empreendimentos.
Que irá acontecer daqui para a frente? Se estivéssemos em um país realmente capitalista, os eventuais problemas financeiros das empresas de Eike seriam um assunto privado a ser tratado e resolvido entre ele e seus credores, com uma salutar divisão de perdas entre alguém que prometeu mais do que pôde ou soube entregar e os que acreditaram nele, apesar de todo o seu corpo de especialistas e analistas prontos para negar crédito aos pobres mortais, mas também ávidos em cair em contos de fadas e lendas contadas por pessoas bem vestidas e bem falantes.
Mas estamos em um país em que, vira e mexe, os cofres públicos são chamados a socorrer megaempresários para “evitar riscos sistêmicos” ou para apoiar “o fortalecimento do empresariado nacional”. A essa altura, segundo um grande banco norte-americano, a dívida das empresas de Eike com o setor financeiro soma mais de R$ 13 bilhões, dos quais R$ 8 bilhões vencíveis no curto prazo. Grandes bancos privados brasileiros estão atolados em montanhas de créditos que agora estão em risco. Pior ainda, participam desse clube o BNDES e a Caixa Econômica, bancos públicos que sempre são os primeiros que vêm à memória de credores com dificuldades para receber o dinheiro que imprudente ou incompetentemente emprestaram e que agora querem de volta.
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