Aumentou o pessimismo em relação à economia brasileira. A queda da produção industrial de 2% em maio — período anterior ao início dos protestos de rua — mostra uma vez mais o resultado dos equívocos da política econômica. A resposta do governo diante dos novos desafios não faz sentido algum. As projeções para o PIB do ano estão sendo revistas para baixo.
Além disso, ronda a economia o medo da crise do grupo de Eike Batista e a dúvida sobre que empresas ou bancos podem ser afetadas pelos problemas do empresário. Para piorar, o mundo passa por novo período de mudanças e deslocamento do ativos.
O economista José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, acha que a produção industrial tende a encolher mais no segundo semestre:
— Vai murchar porque a venda de veículos em comparação com o ano passado estará em queda. Da ótica da demanda, o que deu errado foi o consumo das famílias, que diminuiu por causa da alta da inflação. As pessoas tiraram os outros bens do orçamento e deixaram apenas o essencial, e por isso o consumo das famílias foi de apenas 0,1% no primeiro trimestre.
A queda de 2% da produção industrial de maio vem após dois meses de alta — março e abril —, uma queda forte em fevereiro, que ocorreu depois de alta forte em janeiro. Enfim, apesar da montanha-russa, o economista Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, acha que a tendência é de queda.
— A política econômica aumentou o grau de incerteza na economia. As demandas por melhorias na qualidade dos serviços públicos são legítimas, mas tudo tem um custo enorme. O governo respondeu impondo aos seus parceiros uma enorme incerteza jurídica nos contratos — disse Cunha.
Cunha acha que o IPCA de junho deve ficar entre 0,3% e 0,35%, o que elevaria a inflação acumulada no ano para 6,70%. E isso porque em um terço do mês houve o efeito da redução dos preços dos transportes. No segundo semestre, há o aumento sazonal de alimentos e o efeito do dólar está afetando até os preços que cairiam no mercado externo.
José Roberto confirma isso e cita o exemplo da soja, que subiu apesar de estar em época de queda:
— O trigo já subiu 50%, a safra de arroz é pequena, o feijão está alto. Em queda, apenas o milho e café. Mas está
havendo este ano uma elevação do risco climático da safra americana, apesar de ter aumentado a área plantada. Ela foi produzida numa janela climática muito pequena —entre as inundações do corn belt (cinturão do milho) — isso significa que a chuva e a estiagem têm que ocorrer nos momentos certos, do contrário, afetam grande parte da safra.
Então os preços de alimentos continuarão pressionando a inflação brasileira. Ao mesmo tempo, o ambiente de falta de confiança na economia está produzindo uma redução na produção.
— É muita surpresa negativa ao mesmo tempo e isso está afetando as expectativas dos empresários e do consumidor. Mas o que mais preocupa é a qualidade da resposta do governo à crise. O governo não pode desconhecer tão olimpicamente as críticas que têm sido feitas pelos mais diversos setores à contabilidade criativa e continuar criando truques contábeis sucessivamente — disse José Roberto.
Uma crise dessa proporção, com investidores estrangeiros fugindo da bolsa brasileira por falta de confiança na política econômica e pelo medo dos efeitos dos problemas do grupo de Eike Batista, a economia parando, a inflação ainda alta, e o governo faz novos truques para apresentar estatísticas nas quais ninguém acredita. Na política, o governo mobiliza todos os seus esforços em torno de um plebiscito que está longe de ser o centro dos problemas do país neste momento.
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