O ESTADÃO - 25/06
No debate atual sobre crescimento, ganho de competitividade e balança comercial do País, visões pessimistas prevalecem e ouvem-se poucas propostas alternativas sobre o modelo de desenvolvimento brasileiro. Mas chama atenção a ausência de um tema estratégico nesse assunto: o setor de serviços. Talvez aí resida uma parte importante das opções mais atraentes de políticas para geração de renda, emprego e inovação da economia brasileira. A literatura sobre desenvolvimento indica ser esse setor o mais dinâmico e mais diretamente relacionado à terceira revolução industrial
No Brasil o setor de serviços responde por 67% do PIB e cerca de 75% do emprego. Ou seja, mais de dois terços da economia do País. O mesmo se aplica a países de renda alta, onde a participação do setor é ainda mais expressiva, pois existe uma forte correlação entre nível de desenvolvimento econômico e tamanho do setor de serviços.
Características bastante específicas do setor tomam a análise econômica tradicional mais difícil. Por exemplo, por ser essencialmente intangível, tanto sua mensuração como o desenho de políticas de fomento são bem mais complicados do que as direcionadas para os setores industrial e agrícola, Além disso, a informalidade tende a ser mais ampla. A própria rapidez com que o setor de serviços inova e se adapta a novos contextos toma a tarefa regulatória muito mais difícil. O setor de serviços financeiros e os serviços relacionados à internet são os casos mais notáveis dessa dificuldade.
No Brasil, o lançamento da PITCE em 2003 marcou a primeira política industrial ampla que incorporou o setor de serviços entre suas prioridades, ao incluir TI entre elas. Mas as demais versões de políticas industriais que se seguiram diluíram o setor a ponto de a última versão praticamente desconhecer sua relevância econômica.
O Brasil tem um setor de serviços bastante dinâmico e vários de seus segmentos são particularmente sofisticados. Um sinal disso é que nossas exportações de serviços na última década passaram de US$,10 bilhões para US$ 40 bilhões, apresentando ritmo de crescimento superior às exportações de bens do País. O item mais superavitário das exportações brasileiras nesse campo é o de serviços profissionais, com receita de mais de US$ 22 bilhões. Estão aí incluídos serviços de consultoria, advocacia, engenharia e outros. O Brasil também tem superávits em outros serviços de alto valor agregado, como serviços financeiros, comunicação e construção. Para se ter uma comparação, o complexo da soja exportou em 2012 US$ 26 bilhões, e o setor automobilístico US$ 24 bilhões, e foram, respectivamente, o 3º e o 4º principais segmentos exportadores do Brasil,
Diante desses segmentos, o setor de serviços ainda apresenta algumas vantagens como alta empregabilidade, forte ligação com inovação, baixa demanda por energia, baixíssimo impacto ambiental, baixa necessidade de infraestrutura e logística e baixa demanda por combustíveis fósseis, entre outros.
Vários segmentos do setor de serviços no Brasil passam por revoluções tecnológicas e organizacionais, já nascem e se desenvolvem com forte interação internacional e mostram enorme potencial de se tomarem grupos empresariais modernos e vigorosos. Vale notar que em muitos casos é o setor de serviços que puxa o avanço dos segmentos industriais e agrícolas. E o caso da logística para a mineração, o marketing para bens de consumo, a inovação para o setor eletrônico ou as finanças para o setor de infraestrutura. Mas estão ausentes na agenda da estratégia de desenvolvimento nacional.
É certa a hipótese de vários economistas de que o Brasil não pode prescindir de sua indústria e de seu agronegócio. Obviamente que não. Mas não faz nenhum sentido econômico o País não incluir o setor de serviços, em particular os segmentos de alto valor agregado e diretamente vinculados à economia do conhecimento e à inovação, como prioridades do seu modelo de desenvolvimento.
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