ZERO HORA - 06/05
Causou perplexidade o pronunciamento feito no último sábado pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, durante evento promovido pela Unesco na Costa Rica e comemorativo ao Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. Ao pretender dar uma aula de como o Brasil funciona, o ministro passou aos presentes uma visão pessoal e distorcida da mídia brasileira e da representação racial na sociedade, com ênfase nos meios de comunicação. Disse que o país possui apenas três jornais de abrangência nacional e que todos eles têm tendência ao pensamento de direita. Com essa afirmação, demonstrou desconhecimento de que a circulação dos jornais brasileiros é predominantemente regional e que a mídia brasileira, por ser independente, não tem vínculos com qualquer tendência ideológica. Na mesma ocasião, alegou também que, embora os negros e mulatos correspondam à metade da população, é muito rara sua presença nos estúdios de televisão e em posições de liderança nas emissoras, sendo eles tratados, de forma geral, de maneira estereotipada.
É fácil fazer demagogia. A representação racial nos veículos de comunicação é exatamente a mesma do Supremo Tribunal Federal e das demais instituições do país, porque essa é a realidade da sociedade brasileira. É evidente _ e lamentável _ a desproporção em relação à multiplicidade étnica da população, mas isso se deve a fatores históricos e antropológicos que as políticas afirmativas adotadas recentemente no país vêm tentando compensar, e não a eventuais posições discriminatórias, como deu a entender o magistrado. Quanto ao rótulo ideológico atribuído aos jornais brasileiros, até parece que o ministro ignora a plena liberdade de imprensa vigente no país, assim como o permanente esforço de muitas empresas de comunicação para atuar com independência política, com pluralismo e com neutralidade em relação a ideologias e tendências partidárias.
Prestou um desserviço ao país o senhor Joaquim Barbosa ao expressar uma visão tão deformada da mídia brasileira num fórum internacional. E foi, no mínimo, injusto com a mídia brasileira, que cobriu com isenção e responsabilidade o recente julgamento do mensalão, presidido pelo ministro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário