segunda-feira, maio 06, 2013

Saúde à chinesa - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 06/05

De origem aviária, vírus H7N9 já matou ao menos 27 pessoas; surto é novo desafio para Pequim, que precisa evoluir em controle sanitário


A China enfrenta grandes desafios de saúde pública. O escândalo mais recente levou à prisão de 900 pessoas pelo comércio de alimentos falsos e contaminados. Em alguns dos casos, carne de rato era misturada a produtos químicos e vendida como se fosse de carneiro.

Mais preocupante é a emergência, nas últimas semanas, do misterioso vírus H7N9, de origem aviária. Ao menos 27 pessoas já morreram e milhares de aves foram sacrificadas de forma preventiva.

Ainda é cedo para aquilatar a real dimensão do problema. A recorrência de situações desse tipo, porém, mostra o quanto a China precisa avançar em controle sanitário e segurança alimentar.

No mês passado, mais de 16 mil porcos foram despejados no rio Huangpu, que abastece Xangai, maior cidade do país. As autoridades não conseguiram explicar até agora o motivo da mortandade nos criadouros da região.

Esses e outros episódios provocam compreensível ansiedade na população chinesa. Há cada vez mais preocupação com a qualidade dos alimentos e dúvidas diante das informações oficiais.

Temores de contágio pelo H7N9 levaram a drástica queda no consumo de frango em Xangai, cujos habitantes já desconfiam da carne de porco e da água encanada.

Essa apreensão não se mostra apenas nos momentos de crise. Até hoje os chineses têm receio do leite em pó infantil, após um caso de contaminação por melamina (matéria-prima para fabricar resinas) em 2008, que intoxicou cerca de 300 mil crianças e matou seis bebês.

Em Hong Kong, turistas da China continental compram tanto leite em pó que o governo local restringiu o produto a duas latas por viajante, para impedir o desabastecimento da região.

As dimensões continentais e o crescimento acelerado fazem da China campo fértil para essas ocorrências. Basta lembrar que o país tem cerca de 700 milhões de habitantes na área rural, a maioria produzindo alimentos em minifúndios de fiscalização quase impossível.

A crise atual veicula, no entanto, uma boa notícia: Pequim não tenta esconder o problema, como fez em 2003 com a Sars (síndrome respiratória aguda grave, na sigla em inglês). Originada na China, que proibiu inicialmente a divulgação do surto, infectou cerca de 8.000 pessoas em todo o mundo, das quais cerca de 10% morreram.

Na ausência de prevenção sanitária eficaz, é crucial divulgar informações precisas e atualizadas sobre surtos e contaminações. O governo chinês parece ter aprendido parte da lição, embora o país desconheça algo comparável a uma imprensa livre e independente.

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