Toda vez que o governo comete uma grande incongruência em matéria de política externa envolvendo seu apoio, direto ou indireto, a regimes autoritários, alega puro pragmatismo. "Nosso ponto de vista é comercial, não político", dizem os diplomatas. Mas a verdade é outra.
Uma nova embaixada brasileira aberta em 2009 no regime mais fechado do mundo e que quase desencadeou uma guerra nuclear, na Coreia do Norte, rendeu muito pouco em termos reais. O comércio anual entre os dois países é ínfimo, em torno de US$ 350 milhões (com a Coreia do Sul é de US$ 15 bi).
O estreitamento de laços com o Irã acompanhou o aumento das exportações para US$ 2,5 bi. No entanto, há maneiras menos perigosas de se estimulá-las. Países como China e Alemanha, que não tentaram nenhuma aventura, como subscrever o programa nuclear iraniano que pode desencadear uma guerra de grandes proporções, conseguiram melhores relações comerciais na terra dos aiatolás. Isso sem falar na Síria.
Com a África, nossas relações comerciais cresceram 85% em seis anos, atingindo 26 bi de dólares em 2012, mas não foi por causa de ditaduras como na Guiné Equatorial. A demora em se posicionar na queda de Kadafi na Líbia não salvou o investimento de uma construtora brasileira, ao contrário. Para obter vantagens econômicas, não é necessário que Brasília envie uma carta ao Comitê dos Direitos Humanos na ONU, como foi feito em 2010, pedindo para pararem de censurar as violações dessas ditaduras. O Brasil não pode fazer papel de "office boy" do despotismo mundial.
A cobertura que o governo brasileiro dá aos irmãos Castro em Cuba e aos chavistas na Venezuela se deve à lógica "longe dos EUA, perto do Brasil". O comércio com a ilha caribenha é irrisório e os investimentos brasileiros por lá beneficiam mais Havana. Já na Venezuela, justamente porque o vizinho se tornou um bom mercado para o Brasil é que não deveriam nos interessar instabilidades provocadas pelo labirinto autoritário.
A verdade é que essa política torta do Brasil em questões de direitos humanos e democracia foi acompanhada por um inédito processo de desindustrialização. Além de já termos perdido quase 1/3 dos nossos mercados externos potenciais em manufaturas desde 2008, as exportações brasileiras totais, incluindo alimentos e bens primários, caíram 5,3% só em 2012.
Apoiar ditaduras não está gerando mais empregos no Brasil e nem ajudando o país a crescer. Outra prova de que a perda comercial coincide com o recrudescimento da política externa é que a diferença entre importados e exportados de produtos industriais aumentou 11 vezes desde 2007.
A eleição na OMC não altera em nada o incrível déficit de US$ 100 bi previsto para este ano. O próprio Roberto Azevedo disse ao Congresso que temos que ter orgulho da condição primário-exportadora do Brasil, inaugurando, assim, a "política externa da soja". Portanto, inventem outra desculpa para os seus erros nesse inútil sacrifício de valores.
Uma nova embaixada brasileira aberta em 2009 no regime mais fechado do mundo e que quase desencadeou uma guerra nuclear, na Coreia do Norte, rendeu muito pouco em termos reais. O comércio anual entre os dois países é ínfimo, em torno de US$ 350 milhões (com a Coreia do Sul é de US$ 15 bi).
O estreitamento de laços com o Irã acompanhou o aumento das exportações para US$ 2,5 bi. No entanto, há maneiras menos perigosas de se estimulá-las. Países como China e Alemanha, que não tentaram nenhuma aventura, como subscrever o programa nuclear iraniano que pode desencadear uma guerra de grandes proporções, conseguiram melhores relações comerciais na terra dos aiatolás. Isso sem falar na Síria.
Com a África, nossas relações comerciais cresceram 85% em seis anos, atingindo 26 bi de dólares em 2012, mas não foi por causa de ditaduras como na Guiné Equatorial. A demora em se posicionar na queda de Kadafi na Líbia não salvou o investimento de uma construtora brasileira, ao contrário. Para obter vantagens econômicas, não é necessário que Brasília envie uma carta ao Comitê dos Direitos Humanos na ONU, como foi feito em 2010, pedindo para pararem de censurar as violações dessas ditaduras. O Brasil não pode fazer papel de "office boy" do despotismo mundial.
A cobertura que o governo brasileiro dá aos irmãos Castro em Cuba e aos chavistas na Venezuela se deve à lógica "longe dos EUA, perto do Brasil". O comércio com a ilha caribenha é irrisório e os investimentos brasileiros por lá beneficiam mais Havana. Já na Venezuela, justamente porque o vizinho se tornou um bom mercado para o Brasil é que não deveriam nos interessar instabilidades provocadas pelo labirinto autoritário.
A verdade é que essa política torta do Brasil em questões de direitos humanos e democracia foi acompanhada por um inédito processo de desindustrialização. Além de já termos perdido quase 1/3 dos nossos mercados externos potenciais em manufaturas desde 2008, as exportações brasileiras totais, incluindo alimentos e bens primários, caíram 5,3% só em 2012.
Apoiar ditaduras não está gerando mais empregos no Brasil e nem ajudando o país a crescer. Outra prova de que a perda comercial coincide com o recrudescimento da política externa é que a diferença entre importados e exportados de produtos industriais aumentou 11 vezes desde 2007.
A eleição na OMC não altera em nada o incrível déficit de US$ 100 bi previsto para este ano. O próprio Roberto Azevedo disse ao Congresso que temos que ter orgulho da condição primário-exportadora do Brasil, inaugurando, assim, a "política externa da soja". Portanto, inventem outra desculpa para os seus erros nesse inútil sacrifício de valores.
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