No seu artigo semanal na Folha de S. Paulo, Marina Silva, a ex-ministra, ex-senadora e pré-candidata à sucessão da presidente Dilma Rousseff, deixou de lado a sua inspirada pregação em defesa das causas ambientais e adotou veemência e indignação inusitadas. Sem medo de ser acusada de inimiga da liberdade de expressão, investiu pesadamente contra as centrais de difamação e desinformação que funcionam abertamente na blogosfera.
“Uma investigação poderia mostrar essa espécie de mensalão da internet, indústria subterrânea da calúnia”, escreveu ela, furiosa. A perversa boataria dando conta da suspensão dos benefícios do programa Bolsa Família foi um dos episódios que a revoltaram, outro foi a manipulação de uma declaração dela própria ao condenar os equívocos cometidos pelo pastor-deputado Marco Feliciano (PSC-SP) e, ao mesmo tempo, reclamar que não fossem estendidos à confissão religiosa da qual ele faz parte. Marina então descobriu falsos perfis espalhados nas redes sociais e organizações com brigadas digitais encarregadas de manipular e distorcer o noticiário ao seu respeito. De repente, o que seria uma condenação das ideias do pastor foi rapidamente convertida em endosso.
No momento em que a chamada mídia tradicional admite sua incapacidade para enfrentar o dilúvio informativo produzido pelo que Marina designa como “jornalismo autoral”, sua advertência transcende a esfera da sociologia da comunicação e encaixa-se na agenda política e eleitoral irreversivelmente antecipada. Mas ela não pode ignorar que uma parte apreciável dos 20 milhões de votos obtidos nas presidenciais de 2010 veio de internautas.
A revolta da candidata da futura Rede Sustentabilidade é justificada, mas dificilmente produzirá resultados. A internet é basicamente incontrolável e assim deverá manter-se. Seu antídoto natural – o jornalismo impresso – está vitalmente absorvido com a sua própria sobrevivência. As manipulações extremas poderão eventualmente ser identificadas e punidas judicialmente. Mas os filtros da sociedade estão entupidos, incapazes de eliminar a incrível quantidade de intrigas e maledicência incessantemente colocadas em circulação.
Resta saber se a própria sociedade está disposta a trocar o seu ócio prazeroso pelo empenho em reduzir o lixo e os detritos que ela produz na febre de consumir maquinetas e aplicativos.
Marina Silva é a nossa Pasionaria (1895-1989) – a voz da Espanha que repudiou o fascismo do general Franco – frágil e poderosa, intransigente em suas devoções, mesmo quando confrontada por forças superiores. Não merece ser abandonada.
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