CORREIO BRAZILIENSE - 29/04
Em tempos de temperatura e pressões normais, esta semana poderia ser dedicada ao 1º de Maio. Mas vivemos dias em que a crise institucional entre Supremo Tribunal Federal e Congresso Nacional falará mais alto. Hoje, por exemplo as atenções se voltam para o encontro entre o ministro Gilmar Mendes e os chefes do Legislativo, o senador Renan Calheiros e deputado Henrique Eduardo Alves, ambos do PMDB.
Não seria nada mal incluir nessa seara o Executivo, que margeia essa confusão toda sem deixar explícita a sua parcela de culpa, motivo pelo qual não está na turma do “deixa disso” que se reúne no fim da tarde. Todos sabem que o Planalto não apenas apoiou como incentivou inicialmente a ideia de levar avante o projeto que tira tempo de tevê e fundo partidário das novas legendas — leia-se a Rede Sustentabilidade, da ex-senadora e ex-ministra Marina Silva, e também do partido em gestação pelo deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força. Mas seus líderes fizeram questão de deixar essas ações literalmente “nas entrelinhas”.
A presidente Dilma Rousseff não tem feito referências a essa proposta, assim como, oficialmente, não emitiu opinião sobre a emenda do neofamoso Nazareno Fonteles (PT-PI) e sua tentativa de submeter decisões do Supremo ao crivo do Congresso. Tem deixado suas opiniões para os bastidores e restrita a um grupo bem pequeno. E, salvo engano, pelo menos no que se refere à emenda de Nazareno, os aliados da presidente garantem que ela não apoia. Como não quer brigar feio com a ala petista que patrocinou o texto, no caso, os mensaleiros que hoje não têm mais tanto poder assim dentro do Executivo, mas influenciam muito no partido.
Fora da cena principal do dia — STF versus Congresso e a reunião para tentar reduzir a temperatura e a pressão aos níveis normais —, a presidente avalia outros projetos. Quer por exemplo, aproveitar essa semana e o feriado do Dia do Trabalho para expor os baixos níveis de desemprego do Brasil e tentar mostrar que, apesar dos pesares, a vida do brasileiro comum segue com um certo conforto sob seu comando.
No Poder Executivo, a avaliação é a de que, enquanto a situação econômica estiver nesse patamar, o prestígio da presidente e, por tabela, o do governo, estará em alta. Se a economia melhorar, Dilma ampliará suas chances eleitorais de vitória no primeiro turno, algo inédito na história de seu partido.
Enquanto isso, na política…
Paralelamente à economia, área à qual Dilma dedica maior parte de sua agenda hoje, a política é feita a conta-gotas. Aos poucos, ela vai tratando de segurar os partidos aliados. Resolveu os cargos do PMDB, dando espaço aos peemedebistas de Minas Gerais e abrindo ao aliado Wellington Moreira Franco a área de aviação civil. Melhorou a vida do PR, nomeando César Borges como ministro dos Transportes. O próximo da lista é o PTB, que, se brincar, leva o novo Ministério da Pequena e Micro Empresa. Como o PSD, optou pela independência.
Essas atitudes, todas adotadas no primeiro quadrimestre deste ano, indicam que, aos poucos, a presidente vai se convencendo de que um governo de coalizão requer um tratamento igualitário aos parceiros. Os partidos aliados consideram que ainda não se chegou a esse ponto, mas está melhor do que foi no início de 2012.
As reclamações que persistem nessa área de cargos envolvem especialmente as agências reguladoras e as estatais, caso da Petrobras, onde os interessados dizem que “ainda” não há caminhos para nomeações partidárias, mesmo que sejam técnicos gabaritados para as funções. Uma das queixas na base aliada é a de que as indicações técnicas se restringem ao PT. E a ideia dos partidos é continuar forçando a porta. O problema é que, enquanto a cena estiver tomada pela crise entre Congresso e STF com o Executivo trabalhando quieto, a presidente não sentirá necessidade de abrir esses caminhos. Para ela, a briga Judiciário versus Legislativo veio em boa hora. Afinal, enquanto outros estiverem no papel de vilões, sobra para ela a imagem da mocinha.
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