FOLHA DE SP - 29/04
SÃO PAULO - A liberação das drogas vai diminuir seu consumo. A descriminalização do aborto reduzirá a sua prática. Ações afirmativas não terão impacto negativo no desempenho dos beneficiados na graduação; muito pelo contrário. O kit progressista contemporâneo costuma difundir essas ideias de modo frequente.
Em geral conta-se com a boa vontade de acadêmicos amigos. Dos que sabem que os dados e a lógica contrariam essas assertivas, mas não contam. Dos que são hábeis em torturar as estatísticas e fazê-las confessar apenas o conveniente.
Daí a importância de estudos como os que esta Folha publicou ontem, dando notícia de que o desempenho médio dos alunos cotistas é inferior, do início ao fim dos cursos universitários, na comparação com os estudantes não beneficiados.
Estivéssemos em ambiente neutro, pouco haveria a noticiar. Notas piores de graduandos que tiveram uma educação básica pior apenas confirmam o esperado.
A questão seria saber até que ponto o desempenho ruim seria tolerável para instituições cuja missão também é promover a excelência. E que medidas haveria para mitigar esse efeito indesejado.
Mas vivemos assediados por essa voga de pensamento mágico, capaz de harmonizar os elementos mais contraditórios numa narrativa adocicada. Nada mais próximo do que Marx chamou, pejorativamente, de "ideologia", embora seus seguidores tenham composto o mais poderoso sistema de crenças do século 20.
A lei federal das cotas exige que o Ministério da Educação acompanhe e avalie o desenvolvimento dessa política pública. Prevê também uma revisão do programa após dez anos de sua implantação.
Seria importante criar e publicar indicadores objetivos de desempenho dos alunos beneficiados. Sem xamanismo, o debate seria travado com a profundidade e o nível de informação que merece.
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