O GLOBO - 15/04
A participação das usinas termoelétricas na matriz energética brasileira terá de ser ampliada para compensar o fato de o país não construir mais usinas hídricas com grandes reservatórios de acumulação. As novas hidrelétricas são quase sempre a fio d’água, com barragens que retêm água e apenas usam a vazão natural do rio para acionamento das turbinas naquele momento. No período da cheia, as turbinas são mais acionadas; chegam a ser desligadas na seca. A razão principal para não se construir hidrelétricas com reservatórios de acumulação é ambiental. Os maiores aproveitamentos estão hoje na Amazônia, em trechos de rios onde há desníveis mais expressivos. Na região amazônica são raros os vales profundos a montante dessas possíveis barragens. Assim, para acumulação de água possivelmente teriam de ser formados lagos muito extensos (mesmo para as dimensões da Amazônia), e rasos, o que deixaria parte da floresta submersa ou transformaria as várzeas em igarapés e igapós permanentes.
Antes, considerava-se suficiente uma proporção de 14% de energia de origem térmica na matriz elétrica. Na pratica, como se observou no ano passado e agora em 2013, tal percentual se mostra inadequado para assegurar o fornecimento de energia no caso de a precipitação pluviométrica ficar abaixo das médias históricas. Ainda que com grande potencial de crescimento, talvez se multiplicando por 10 no prazo de quinze a vinte anos, a energia eólica atualmente responde por cerca de 0,5% da eletricidade gerada no país. A solar permanece como promessa para um futuro mais distante.
No caso das térmicas, será preciso recorrer a usinas que queimem gás (cuja oferta é limitada pela produção nacional relativamente pequena), biomassa, óleo e carvão mineral. Nessas opções, a energia é mais cara que a gerada por hidrelétricas e tem o inconveniente do impacto ambiental mais intenso.
Neste contexto, o Brasil não pode abrir mão da energia nuclear. O país tem hoje o domínio da construção e da operação desse tipo de usina, além de deter tecnologia para enriquecimento de urânio, o que significa que novas centrais tendem a ficar mais baratas do que as atuais. Está provado que o impacto ambiental das usinas nucleares, geridas de maneira responsável e com elevado padrão de segurança, é dos mais baixos entre as grandes fontes de geração de eletricidade. Todas as etapas de funcionamento de uma usina nuclear são controladas, inclusive a de rejeitos, que, em futuro relativamente próximo, deverão ser reaproveitados como combustível (pois, no atual processo, não são completamentos queimados nos reatores) devido ao avanço tecnológico que possibilitará a sua reutilização.
O acidente em Fukushima, após o tsunami que devastou a costa do Norte do Japão voltada para o Oceano Pacífico, trouxe intranquilidade para os projetos de usinas nucleares, mas já estão claros os erros cometidos ali (e que mesmo assim não chegaram a causar danos mais sérios para a população). Tanto que usinas estão sendo religadas.
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