O Globo - 15/04
No final de março, estive num evento em São Paulo com o ministro do Turismo da África do Sul, Marthinus van Schalkwyk. O jornalista William Waack perguntou-lhe se seu país ficara com "elefantes brancos" depois da Copa de 2010. "Nós sabíamos que havia o risco", disse meu colega. "Mas o que era melhor: ter elefantes brancos ou não ter a Copa?"
A resposta está num dado simples: a receita com turismo internacional na África do Sul saltou de US$ 7,5 bilhões em 2009 para US$ 9,5 bilhões em 2011. O país ganhou novos aeroportos e hotéis. Consolidou-se como marca e destino global. Elevou a qualidade de sua recepção ao viajante. Após a Copa, emergiu.
Quem estava pensando em retorno imediato para os US$ 7 bilhões investidos, porém, frustrou-se: até hoje os acadêmicos debatem o ganho real da Copa para o PIB sul-africano. Alguns estádios não se pagaram ainda. E há dúvidas até sobre a cifra oficial de 300 mil turistas estrangeiros a mais no país. São informações que exigem reflexão, à medida que o Brasil embarca na dispendiosa aventura de sediar uma Copa do Mundo.
Megaeventos esportivos nem raramente trazem grandes ganhos financeiros no curto prazo. Alguns dão megaprejuízos, como as Olimpíadas de Montreal, em 1976. Se uma Copa ou uma Olimpíada serão ou não um bom negócio é algo que depende de como o legado desses eventos é gerido: do que eles deixam para a população além dos estádios e vilas olímpicas; do quanto eles conseguem unir o país e projetar uma imagem positiva para o mundo nos anos seguintes.
A África do Sul é um exemplo admirável. A visão estratégica do país desde o início foi voltada a aumentar as receitas com o turismo, ampliar a demanda e a capacidade de oferta de produtos turísticos. Gargalos de infraestrutura e problemas de imagem relacionados à violência foram atenuados.
No Brasil, há estimativas otimistas sobre o retorno da Copa do Mundo de 2014. Uma delas fala em R$ 142 bilhões. Torço para que esses números se realizem, mas o retorno virá, sobretudo, por meio do incremento das receitas do turismo em médio e longo prazos. E ele não virá se nós aplicarmos os R$ 33 bilhões do custo estimado da Copa e deitarmo-nos em berço esplêndido. Precisamos aproveitar o momento para consolidar o Brasil como marca internacional, para além de sol e praia. Precisamos qualificar nossa mão de obra no pós-Copa, gerando excelência nos cursos de turismo e hotelaria. Precisamos qualificar nossos meios de hospedagem, como fizeram os sul-africanos. Por isso o Ministério do Turismo trouxe de volta as estrelas aos nossos hotéis, com o Sistema Brasileiro de Classificação de Meios de Hospedagem. Precisamos de um marketing agressivo, de transparência na execução das obras e de soluções criativas para a gestão posterior dos estádios das quatro cidades com menos tradição futebolística.
E precisamos - governo, setor privado e sociedade civil - pensar a longo prazo, uma dificuldade notória do brasileiro. Para o turismo no Brasil, a Copa do Mundo não se encerra quando o juiz aponta o centro do campo na última partida. O apito final é apenas o começo de um longo trabalho.
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