O nome é curioso: Comissão Estadual da Verdade.
Pode sugerir a alguns cidadãos ingênuos que existam investigações oficiais sem compromisso com a veracidade - o que, pensando bem, não surpreenderia muita gente. No entanto, é uma designação adequada para essa iniciativa da Assembleia Legislativa, dedicada a investigar crimes cometidos no estado durante a ditadura militar, contra cidadãos que se opunham ao regime.
O projeto a respeito foi aprovado há meses pelos deputados estaduais, mas, pelo visto, demorou a chamar a atenção do governador Sérgio Cabral. Ele finalmente escolheu, na semana passada, o presidente da comissão, o advogado Wadih Damous, e prometeu montar a equipe com cidadãos ligados à defesa de presos políticos.
A comissão, sensatamente, seguirá nas pegadas da comissão nacional instalada no ano passado.
Presume-se que seja um caminho sensato. Afinal de contas, a ditadura sempre ignorou fronteiras estaduais e sua eficiência - tão cruel quanto lamentável - era, em boa parte, resultado disso. O governo militar tinha, como era inevitável, áreas de divergência e disputas entre grupos.
Mas nada que criasse brechas na eficiência com que exercia o poder. Pelo menos até o momento em que decidiu, por vontade própria, voltar para os quartéis.
A classe política - que, ninguém se esqueça - incluía um número considerável de admiradores do regime e em momento algum ameaçou o regime de exceção. Os militares não foram expulsos do poder: voltaram para os quartéis por decisão própria.
E, pelo menos até agora, nada sofreram. Nem é provável que isso aconteça. É verdade que também existe a Comissão Nacional da Verdade, instalada no ano passado. Ela trabalha em silêncio e deve entregar seu relatório dentro de um ano. Os organizadores da comissão estadual, que tem, oficialmente, dois anos para trabalhar, pretendem apressar as investigações e apresentar suas conclusões ao mesmo tempo.
Mas são trabalhos acadêmicos: não visam a punir os crimes da ditadura militar; terão, talvez, a utilidade de impedir que eles sejam esquecidos - como, devemos esperar, uma espécie de vacina contra a sua repetição.
Muita gente, principalmente quem não sofreu os efeitos da violência com que os militares exerceram o poder (em muitos casos agindo com mais brutalidade do que pretendiam alguns membros da cúpula do governo de exceção), não concorda com a criação das duas comissões.
É a atitude de quem não gosta de assuntos desagradáveis.
No fim das contas, mesmo que seja inviável qualquer punição aos sobreviventes do regime militar (que não devem ser muitos), é preciso lembrar que os anos de chumbo, como alguns os chamaram, são parte importante da história do país. Como alguém já disse, com muita sabedoria, um cidadão ou um país que se esquece de seus erros é muitas vezes condenado a repeti- los. O trabalho das duas comissões pode ser uma vacina eficaz
Pode sugerir a alguns cidadãos ingênuos que existam investigações oficiais sem compromisso com a veracidade - o que, pensando bem, não surpreenderia muita gente. No entanto, é uma designação adequada para essa iniciativa da Assembleia Legislativa, dedicada a investigar crimes cometidos no estado durante a ditadura militar, contra cidadãos que se opunham ao regime.
O projeto a respeito foi aprovado há meses pelos deputados estaduais, mas, pelo visto, demorou a chamar a atenção do governador Sérgio Cabral. Ele finalmente escolheu, na semana passada, o presidente da comissão, o advogado Wadih Damous, e prometeu montar a equipe com cidadãos ligados à defesa de presos políticos.
A comissão, sensatamente, seguirá nas pegadas da comissão nacional instalada no ano passado.
Presume-se que seja um caminho sensato. Afinal de contas, a ditadura sempre ignorou fronteiras estaduais e sua eficiência - tão cruel quanto lamentável - era, em boa parte, resultado disso. O governo militar tinha, como era inevitável, áreas de divergência e disputas entre grupos.
Mas nada que criasse brechas na eficiência com que exercia o poder. Pelo menos até o momento em que decidiu, por vontade própria, voltar para os quartéis.
A classe política - que, ninguém se esqueça - incluía um número considerável de admiradores do regime e em momento algum ameaçou o regime de exceção. Os militares não foram expulsos do poder: voltaram para os quartéis por decisão própria.
E, pelo menos até agora, nada sofreram. Nem é provável que isso aconteça. É verdade que também existe a Comissão Nacional da Verdade, instalada no ano passado. Ela trabalha em silêncio e deve entregar seu relatório dentro de um ano. Os organizadores da comissão estadual, que tem, oficialmente, dois anos para trabalhar, pretendem apressar as investigações e apresentar suas conclusões ao mesmo tempo.
Mas são trabalhos acadêmicos: não visam a punir os crimes da ditadura militar; terão, talvez, a utilidade de impedir que eles sejam esquecidos - como, devemos esperar, uma espécie de vacina contra a sua repetição.
Muita gente, principalmente quem não sofreu os efeitos da violência com que os militares exerceram o poder (em muitos casos agindo com mais brutalidade do que pretendiam alguns membros da cúpula do governo de exceção), não concorda com a criação das duas comissões.
É a atitude de quem não gosta de assuntos desagradáveis.
No fim das contas, mesmo que seja inviável qualquer punição aos sobreviventes do regime militar (que não devem ser muitos), é preciso lembrar que os anos de chumbo, como alguns os chamaram, são parte importante da história do país. Como alguém já disse, com muita sabedoria, um cidadão ou um país que se esquece de seus erros é muitas vezes condenado a repeti- los. O trabalho das duas comissões pode ser uma vacina eficaz
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