O governo federal vai encontrar imensas dificuldades para realizar o seu objetivo de crescimento da economia em torno de 4% em 2013. Há, no horizonte de curto prazo, a convergência do processo de exaustão de três ciclos que impulsionaram a expansão de nossa economia após a consolidação da estabilidade monetária pós-Plano Real.
Em primeiro lugar, o bom desempenho dos preços e das quantidades de nossas exportações começou a se exaurir a partir da crise econômico-financeira que vem se prolongando desde 2008. Um novo ciclo de expansão da economia mundial poderá ocorrer apenas após 2015.
Em segundo lugar, os ganhos das reformas institucionais dos processos de privatização e de desregulamentação que ampliaram significativamente os investimentos, a produtividade e a eficiência microeconômica de muitas das antigas empresas estatais e de suas poderosas cadeias produtivas se estabilizaram, ainda que em patamares elevados. Mas as ambiguidades político-ideológicas da aliança interpartidária que governa o País fazem dos novos processos de privatizações, de concessões e de desregulamentações um campo de incertezas.
Finalmente, o ciclo das mudanças redistributivas da renda e da riqueza nacional, codificado na Constituição de 1988, está se exaurindo sob as restrições orçamentárias do governo federal, pressionado ainda mais para realocar as receitas adicionais na direção dos investimentos em infraestrutura econômica. A contribuição das políticas sociais compensatórias foi fundamental para impulsionar o mercado interno de algumas regiões do País, embaladas pelo crescimento real expressivo do salário mínimo.
O que fazer? Nestes momentos históricos em que tendem a se esgotar as fontes prevalecentes de crescimento sustentado, a sociedade brasileira sempre soube arquitetar politicamente grandes transformações, como ocorreu na primeira metade dos anos 50 com o presidente JK, no ciclo do milagre econômico dos anos de 1967 a 1975 ou no primeiro mandato do presidente FHC. Não me parece que a atual administração do governo federal esteja preparada para identificar, estruturar e implementar um processo de construção de um novo paradigma de desenvolvimento para o Brasil. Na verdade, a opção da atual equipe econômica é por uma abordagem incrementalista para enfrentar os problemas de baixo crescimento econômico, da persistência das desigualdades sociais e do uso predatório dos nossos ecossistemas.
Seguindo o incrementalismo sempre que um hiato é percebido pelos formuladores das políticas econômicas entre uma realidade observada e uma situação ideal, medidas são tomadas para preencher esse hiato. Ao se fechar um hiato, contudo, sempre se abrem outros; ao se resolver um problema, criam-se outros; e então estes passam, num momento seguinte, a ser percebidos como problemas, e tentativas são feitas com o objetivo de fechar os hiatos entre as situações ideais e a realidade nesses outros casos.
Esse processo pode se ramificar quase indefinidamente e há muitas situações em que ele se torna razoavelmente bem-sucedido (ao longo de um ciclo de expansão, por exemplo) como padrão de resolver os problemas das políticas econômicas. Mas nem sempre. É o caso da situação atual, em que a equipe econômica busca administrar as mazelas e os desencontros induzidos por suas ações entre os macropreços dos salários, do câmbio, da taxa de juros ou dos preços relativos de bens energéticos, resultando ora na aceleração da inflação ora na perda de competitividade dos bens exportáveis ou, até mesmo, na descapitalização de instituições e setores estratégicos da economia brasileira.
Assim, de intervenção ad hoc a intervenção ad hoc nos macropreços, formam-se armadilhas de efeitos inesperados que aguçam as incertezas para os agentes econômicos que desejam um mínimo de racionalidade e de previsibilidade nas suas decisões de médio e de longo prazos.
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