A inflação de fevereiro ficou dentro do esperado - ou seja, continua alta demais e espalhada demais. Em 12 meses, chegou aos 6,31%, muito perto do topo da meta (os 4,5% mais a margem de escape tolerada, de 2 pontos porcentuais). Nada menos que 72,3% dos itens que compõem a cesta do custo de vida (índice de difusão) apresentaram alta no mês passado.
Seria bom poder dizer que o pior já passou e que a partir de agora a inflação perderá força - como aponta o discurso oficial. Mas alguns fatores ainda pesam sobre os preços.
O primeiro é que a alta somente não foi mais grave em fevereiro por causa do impacto da queda das tarifas de energia elétrica, de nada menos que 15,17%. Esse elemento atua com força baixista somente uma vez. Seu efeito residual não será relevante.
Outro fator é a contundência altista do setor de serviços. Em fevereiro, a alta foi de 1,3%, acima do nível de janeiro (0,92%).
O terceiro colaborador da alta dos preços é o já mencionado índice de difusão. A inflação não se concentra em dois ou três itens; está muito disseminada, o que pode acentuar as remarcações. A estes, podem ser acrescentados outros focos de alta de preços: o último reajuste do óleo diesel, de 5,0%; e outro represamentos, como o das tarifas de transporte público.
Na última quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central avisou que avaliará o comportamento dos preços, para depois definir a nova estratégia de contra-ataque. Os dados de fevereiro reforçam a expectativa de que, já em abril, o Copom se verá obrigado a voltar a elevar os juros básicos (Selic).
Caso se confirmem as projeções colhidas pela pesquisa Focus, do Banco Central, uma inflação de 0,43% em março atirará a inflação em 12 meses para 6,55%, perfurando assim o teto da meta. Esse número tende a acirrar os mecanismos de indexação (reajustes de preços) e a realimentar a inflação. Em todo o caso, a expectativa do governo (e do mercado) é de que, no segundo semestre, a inflação comece a cair. As últimas projeções das cerca de 100 consultorias abordadas pelo Banco Central apontam, para 2013, inflação de 5,7%. A previsão da instituição, no entanto, segue bem abaixo disso, nos 4,8%. É sinal de que não vem conseguindo liderar as expectativas.
Além de corroer o poder aquisitivo, a força da inflação gera importante efeito sobre o câmbio, que, por sua vez, reduz a competitividade do setor produtivo. Explicando melhor: a desvalorização do real ao longo de 2012, de cerca de 20%, deveria encarecer os preços dos importados e melhorar as condições de mercado para o produto nacional. Uma inflação superior a 6,0% em 12 meses encareceu o produto brasileiro e baixou a desvalorização real da moeda nacional em torno de 14%.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem dito que um dos fatores macroeconômicos que concorreram para a alta de preços foi a escalada dos salários. Mas esse processo ainda está sujeito a comprovação. Se há pleno emprego mesmo com a produção crescendo a 0,9%, como no ano passado, não dá para esperar por desaquecimento do mercado de trabalho caso a economia cresça a 3,0% ou 3,5%, como pretende o governo.
Também não se pode contar com maior contribuição do setor externo, onde até agora a inflação persistiu em níveis muito baixos. Alguma recuperação na maior economia do mundo, a dos Estados Unidos, já parece contratada. Isso leva a crer que a inflação por lá poderá se mexer.
O melhor que o governo Dilma faria para controlar a inflação sem ter de elevar demais os juros seria impor disciplina mais firme na condução das contas públicas. Mas essa providência o governo federal não gostaria de tomar num quadro de baixa expansão do PIB - como o de agora.
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