Vários acordos comerciais vêm sendo feitos no mundo numa velocidade surpreendente, mas o governo Dilma, infelizmente, parece estar dormindo
Todo país que pretenda absorver a tecnologia desenvolvida no exterior somente terá êxito em sua pretensão se promover o maior grau possível de abertura para o mundo. Por abertura deve-se entender uma legislação que facilite o comércio exterior, estimule a entrada de investimento estrangeiro direto e não crie embaraços à entrada e saída de capitais financeiros internacionais. No atual estágio de desenvolvimento tecnológico, nenhum país pobre tem chance de sair do atraso se não trouxer para a economia interna os inventos e as técnicas modernas criadas no mundo desenvolvido.
O primeiro passo para a integração econômica internacional de uma nação é a aprovação de um conjunto de leis que estimulem os produtores nacionais a exportar e liberem as importações, sempre respeitando, claro, as leis tributárias e as regras não tarifárias, como é o caso das normas sanitárias. Ao comércio de mercadorias com o exterior seguem-se os investimentos de empresas estrangeiras no país e, na sequência, segue-se a transferência de tecnologia. É uma contradição em si mesma a política externa que fecha o país para o resto do mundo e, ao mesmo tempo, quer a tecnologia desenvolvida no exterior.
Os países mais abertos conseguiram absorver maior volume de tecnologias externas, e isso ajudou em seu desenvolvimento econômico e social. Foi o caso de Canadá, Austrália, Dinamarca, Nova Zelândia e Chile, só para citar alguns países que entenderam algo muito simples: é impossível um país desenvolver internamente todas as tecnologias necessárias à superação da pobreza e à melhoria do bem-estar de sua população. E, mesmo em um país com capacidade de produzir tecnologias próprias, é ato de inteligência abrir-se para o exterior justamente para vender ao mundo o resultado de sua genialidade.
Nos anos 70 e 80, o Brasil praticou duas políticas completamente insanas, com o respaldo da esquerda e de boa parte dos militares: a lei de reserva de mercado da informática (pela qual era proibido importar computadores, equipamentos e tecnologia, e empresário estrangeiro não podia ter empresas desse setor em território brasileiro) e a hostilização explícita às empresas multinacionais que desejassem montar suas fábricas por aqui. Severo Gomes, político de esquerda que se tornara ministro da Indústria e Comércio, inventou a teoria da tecnologia genuinamente nacional e aprovou um amontoado de normas contra a entrada de tecnologias vindas do exterior.
Foi grande o prejuízo causado ao país por essas teorias, as quais já não gozam de credibilidade. Apesar disso, o Brasil continua tendo uma economia fechada na comparação com o resto do mundo. A crise financeira dos Estados Unidos e a crise europeia induziram os países a trabalharem na revisão de suas políticas externas e vários acordos comerciais vêm sendo feitos no mundo numa velocidade surpreendente. O governo Dilma, infelizmente, parece tomado de letargia e mergulhado em administrar o cotidiano sem que o Brasil participe dos acontecimentos econômicos mais relevantes no cenário internacional.
A diplomacia brasileira incrustada no Itamaraty parece ter sido anestesiada e somente aparece quando algum evento internacional atinge o Brasil. A própria presidente Dilma Rousseff não parece disposta a fazer da política externa e dos acordos internacionais uma prioridade relevante de seu governo. A sensação é de que o mundo está se mexendo e o Brasil está parado. Nada se faz e nada se fala de relevante em relação a temas cruciais para o desenvolvimento nacional, como os acordos comerciais com a América do Norte, os rumos do Mercosul, os acordos com a Europa e a posição do Brasil no intercâmbio de tecnologias.
O governo brasileiro está parado justamente quando praticamente sumiram os protestos contra a globalização e contra a inserção internacional do país. O momento recomenda ao país a tomada de iniciativas a fim de participar do jogo político e econômico internacional, mesmo porque, quando os sinais das crises forem deixados para trás, o mundo poderá emergir como um grande e próspero mercado. Se o Brasil pensar pequeno e agir de forma miúda e fechada sobre seu próprio umbigo, mais uma vez o bonde da história passará e o atraso continuará sendo a marca deste país.
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