FOLHA DE SP - 20/02
A blogueira cubana Yoani Sánchez ganhou fama internacional ao publicar na internet denúncias sobre violações de direitos humanos e críticas ao governo de seu país, que passou a lhe negar permissão para viagens ao exterior.
A visita de Sánchez ao Brasil, enfim autorizada, despertou a fúria de setores da esquerda local. Os mais sectários chegam a ver nela uma ameaça ao que resta do regime cubano, a ponto de se sentirem compelidos a tentar calá-la com manifestações de truculência.
A revolução cubana incendiou a imaginação de intelectuais de esquerda na América Latina, a partir dos anos 1960, com suas conquistas sociais e seu antiamericanismo. Caiu nos braços da antiga União Soviética e se tornou uma ditadura, capitaneada durante meio século por Fidel Castro.
Com a "débâcle" soviética, duas décadas depois, a ilha, submetida a bloqueio comercial dos EUA, perdeu os subsídios que a sustentavam. Mergulhou em grave crise.
Yoani Sánchez chegou à idade adulta nesse período do regime castrista, que passou a conjugar a penúria material com o tradicional cardápio de repressão às liberdades, controle estatal da imprensa e perseguição a dissidentes.
Depois do declínio físico de Fidel e da transferência de poder para seu irmão Raúl Castro, Cuba se viu forçada a iniciar um processo de abertura política e econômica, que ora avança de forma lenta.
Foi nesse contexto que a viagem de Sánchez -aliás, quase desconhecida em seu próprio país- atraiu tantas atenções. Ao reconhecer-lhe, enfim, o direito de ir e vir, a ditadura castrista parece agora engajada num esforço frenético de contrapropaganda.
Estranha que o governo brasileiro -como sugere a presença de um funcionário da Presidência em reunião na Embaixada de Cuba- se preste a ser associado com uma patética operação para atacar a imagem da visitante e intimidá-la.
Já houve, porém, precedente. Em 2007, o Brasil entregou ao regime dos irmãos Castro dois atletas que desertaram da delegação cubana nos Jogos Pan-Americanos do Rio.
Aqui, ao contrário de Cuba, vive-se numa democracia. Todos são livres para viajar e opinar. Ninguém é obrigado a gostar de Yoani Sánchez nem de Fidel Castro.
Tais liberdades, no entanto, não autorizam o show de intolerância encenado em Feira de Santana (BA). Militantes do PT e do PC do B têm o direito de protestar contra aquela que erigiram em esbirro do imperialismo, mas não de impedir a blogueira de falar nem de pôr em risco sua integridade física.
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