O aumento do índice de difusão da inflação nos últimos meses é o elemento que mais preocupa o Banco Central (BC) neste momento e o que deve levar o Comitê de Política Monetária (Copom) a aumentar a taxa básica de juros (Selic) no curtíssimo prazo. Esse índice, que mede a proporção de itens com variação positiva no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), atingiu em janeiro o valor mais alto (75%) desde abril de 2003, mês em que a inflação, em 12 meses, chegou a quase 17%.
Os reajustes de preços vêm se generalizando desde meados do ano passado. Em junho de 2012, quando o IPCA em 12 meses estava abaixo de 5%, o índice de difusão (sem ajuste sazonal e incluindo alimentos) foi de 62%. Em dezembro, saltou para 71% e, no primeiro mês de 2013, elevou-se para 75%. Mesmo retirando do índice os alimentos, produtos que pressionaram fortemente a inflação no segundo semestre do ano passado, o índice de difusão permaneceu elevado - 70% (ver gráfico).
Foi apenas depois de conhecer o IPCA de janeiro (0,86%, o maior índice para meses de janeiro desde 2003) que o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, elevou o tom do discurso em relação à inflação, dando a entender de que o Copom pode mudar a estratégia de curto prazo da política de juros e recorrer a um novo ciclo de aperto monetário. Ontem, ao discursar em evento, Tombini reiterou que a estratégia adotada pelo BC "permanece válida neste momento".
Essa estratégia, renovada na ata da última reunião do Copom, prevê juro estável em 7,25% ao ano por "período suficientemente prolongado". Alguns analistas encararam a referência à principal mensagem da última ata como uma indicação de que o Copom não elevará a Selic tão cedo.
Na verdade, Tombini pode estar apenas seguindo um ritual de comunicação. Primeiro, mostrou ao mercado que não está confortável com o comportamento da inflação e que, portanto, o BC pode atuar para corrigir essa situação. Ele abriu a possibilidade de intervenção via aumento de juro, desmontou a ideia de que o Copom está inerte por razões políticas e, com isso, tenta melhorar as expectativas, que por si só respondem por cerca de 1/3 da inflação.
Tombini manteve o discurso austero mesmo diante da informação divulgada ontem pelo IBGE de que as vendas a varejo recuaram 0,5% em dezembro, uma indicação de que a economia continuaria fraca. Sua preocupação, como ele disse ontem, é com o "cenário prospectivo" da inflação. Além disso, ele deixou claro que a mensagem da última ata vale "neste momento"; o diagnóstico e a estratégia podem mudar nas próximas semanas. E lembrou que os "ciclos monetários" não foram abolidos.
A possibilidade de elevação de juros neste momento não estava posta até duas semanas atrás. Muito provavelmente, o Copom não mexerá na taxa Selic na reunião que termina no dia 6 de março, mas, possivelmente no comunicado e depois na ata da reunião a ser divulgada no dia 14, o Comitê fará uma sinalização, indicando possibilidade de alta no encontro seguinte, agendado para 17 de abril.
Contra inflação, BC usa câmbio e deve recorrer a juros
Por enquanto, trata-se de uma probabilidade. As falas de Tombini mostram que ele não se comprometeu totalmente com um aumento de juros no curtíssimo prazo, mas definitivamente colocou o tema no radar. Daqui até a reunião de abril vão se passar quase 60 dias. É provável que o cenário inflacionário não se altere muito, o que apenas justificará uma ação do BC.
A presidente Dilma Rousseff não se opõe ao uso do juro, mas sua maior preocupação neste momento é com a recuperação da economia, que teve crescimento pífio até agora em seu mandato. O Palácio do Planalto atribui a inflação elevada de janeiro a fatores sazonais (preços dos alimentos) e à "incompetência" de órgãos do próprio governo.
A referencia, nesse caso, é à Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), que, na opinião do governo, não administrou adequadamente os estoques reguladores de alimentos em janeiro, especialmente no Nordeste. "Os indicadores mostram que a inflação de janeiro foi uma inflação nordestina", diz uma fonte, referindo-se à alta de preços de produtos como farinha de mandioca (alta de 10,73% em janeiro e de 111,85% em 12 meses) e feijão-mulatinho (8,33% e 43,66%, respectivamente).
O governo acha, também, que a inflação cederá daqui em diante graças à redução das tarifas de energia e à desoneração da folha de pessoal de 27 setores da economia. Aposta-se, igualmente, em desonerações do PIS-Cofins de alguns produtos e na eliminação de tributos incidentes sobre a cesta básica.
Nesses dois casos, é importante ponderar que mesmo a equipe econômica não compartilha de tamanho otimismo porque o corte de PIS-Cofins será feito com cuidado, por meio de experiência-piloto, com efeitos apenas no longo prazo, e a desoneração da cesta básica também levará algum tempo. Ademais, como a demanda continua firme, a tendência das empresas diante das desonerações é aumentar a margem de lucro, em vez de reduzir preços.
Os reajustes de preços vêm se generalizando desde meados do ano passado. Em junho de 2012, quando o IPCA em 12 meses estava abaixo de 5%, o índice de difusão (sem ajuste sazonal e incluindo alimentos) foi de 62%. Em dezembro, saltou para 71% e, no primeiro mês de 2013, elevou-se para 75%. Mesmo retirando do índice os alimentos, produtos que pressionaram fortemente a inflação no segundo semestre do ano passado, o índice de difusão permaneceu elevado - 70% (ver gráfico).
Foi apenas depois de conhecer o IPCA de janeiro (0,86%, o maior índice para meses de janeiro desde 2003) que o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, elevou o tom do discurso em relação à inflação, dando a entender de que o Copom pode mudar a estratégia de curto prazo da política de juros e recorrer a um novo ciclo de aperto monetário. Ontem, ao discursar em evento, Tombini reiterou que a estratégia adotada pelo BC "permanece válida neste momento".
Essa estratégia, renovada na ata da última reunião do Copom, prevê juro estável em 7,25% ao ano por "período suficientemente prolongado". Alguns analistas encararam a referência à principal mensagem da última ata como uma indicação de que o Copom não elevará a Selic tão cedo.
Na verdade, Tombini pode estar apenas seguindo um ritual de comunicação. Primeiro, mostrou ao mercado que não está confortável com o comportamento da inflação e que, portanto, o BC pode atuar para corrigir essa situação. Ele abriu a possibilidade de intervenção via aumento de juro, desmontou a ideia de que o Copom está inerte por razões políticas e, com isso, tenta melhorar as expectativas, que por si só respondem por cerca de 1/3 da inflação.
Tombini manteve o discurso austero mesmo diante da informação divulgada ontem pelo IBGE de que as vendas a varejo recuaram 0,5% em dezembro, uma indicação de que a economia continuaria fraca. Sua preocupação, como ele disse ontem, é com o "cenário prospectivo" da inflação. Além disso, ele deixou claro que a mensagem da última ata vale "neste momento"; o diagnóstico e a estratégia podem mudar nas próximas semanas. E lembrou que os "ciclos monetários" não foram abolidos.
A possibilidade de elevação de juros neste momento não estava posta até duas semanas atrás. Muito provavelmente, o Copom não mexerá na taxa Selic na reunião que termina no dia 6 de março, mas, possivelmente no comunicado e depois na ata da reunião a ser divulgada no dia 14, o Comitê fará uma sinalização, indicando possibilidade de alta no encontro seguinte, agendado para 17 de abril.
Contra inflação, BC usa câmbio e deve recorrer a juros
Por enquanto, trata-se de uma probabilidade. As falas de Tombini mostram que ele não se comprometeu totalmente com um aumento de juros no curtíssimo prazo, mas definitivamente colocou o tema no radar. Daqui até a reunião de abril vão se passar quase 60 dias. É provável que o cenário inflacionário não se altere muito, o que apenas justificará uma ação do BC.
A presidente Dilma Rousseff não se opõe ao uso do juro, mas sua maior preocupação neste momento é com a recuperação da economia, que teve crescimento pífio até agora em seu mandato. O Palácio do Planalto atribui a inflação elevada de janeiro a fatores sazonais (preços dos alimentos) e à "incompetência" de órgãos do próprio governo.
A referencia, nesse caso, é à Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), que, na opinião do governo, não administrou adequadamente os estoques reguladores de alimentos em janeiro, especialmente no Nordeste. "Os indicadores mostram que a inflação de janeiro foi uma inflação nordestina", diz uma fonte, referindo-se à alta de preços de produtos como farinha de mandioca (alta de 10,73% em janeiro e de 111,85% em 12 meses) e feijão-mulatinho (8,33% e 43,66%, respectivamente).
O governo acha, também, que a inflação cederá daqui em diante graças à redução das tarifas de energia e à desoneração da folha de pessoal de 27 setores da economia. Aposta-se, igualmente, em desonerações do PIS-Cofins de alguns produtos e na eliminação de tributos incidentes sobre a cesta básica.
Nesses dois casos, é importante ponderar que mesmo a equipe econômica não compartilha de tamanho otimismo porque o corte de PIS-Cofins será feito com cuidado, por meio de experiência-piloto, com efeitos apenas no longo prazo, e a desoneração da cesta básica também levará algum tempo. Ademais, como a demanda continua firme, a tendência das empresas diante das desonerações é aumentar a margem de lucro, em vez de reduzir preços.
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