CORREIO BRAZILIENSE - 28/02
Muito se disse ontem e se repetirá hoje sobre a frase de Lula, dizendo que apanha da imprensa brasileira da mesma forma que Abraham Lincoln sofria críticas dos jornalistas americanos da sua época. E, nós jornalistas, gastaremos páginas e páginas para dizer que Lula já se comparou a muitos famosos da história, inclusive Jesus Cristo. E o ex-presidente vai assim surfando e aparecendo, no embalo do cinema e do Oscar do último domingo, que deu a Daniel Day Lewis o Oscar por Lincoln.
Lula cria assim um cenário tão fictício quanto o das Aventuras de Py. A mídia não vive de bater no ex-presidente. Ao contrário. Sempre divulgou seu sucesso, suas frases, ajudando a construir a imagem do fazedor de coisas e de políticos. Que o digam a sucessora, Dilma Rousseff, e o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, suas mais fantásticas criações da história recente na política brasileira.
A diferença é que Haddad, no início do governo, tem tempo para se dedicar a criação de uma marca que lhe conduza e projete perante o eleitorado paulista. Dilma, com sua gestão pelo meio, ainda não produziu essa marca. Daí, a necessidade de firmar nos efeitos especiais produzidos por Lula, pelo marqueteiro João Santana, e a ampliação dos programas sociais criados no governo do antecessor.
Pelo menos, nesta altura do campeonato, ainda não temos uma marca do atual governo. Talvez essa marca apareça em breve, com a reformulação do marco regulatório dos portos, com as novas concessões dos serviços de energia elétrica, rodovias, ferrovias e, ainda na área de educação, onde parece haver uma sensível melhora em alguns aspectos, caso do ciência sem fronteiras, por exemplo. Ou, quem sabe, lá na frente, a história faça justiça e diga que a gestão Dilma organizou o setor de infraestrutura. Por enquanto, é cedo para dizer qualquer coisa a esse respeito e o tempo vai passando.
De grandioso mesmo, só os programas sociais do antecessor, que, justiça seja feita, têm o seu valor. No mais, são os efeitos do cinema, onde as câmeras de Steven Spielberg conseguiram transformar a história da compra de votos para aprovação da emenda que resultaria no fim da escravatura americana em algo vibrante e com um certo charme.
Enquanto isso, no Congresso…
O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), começa sua performance com uma cena épica, ao colocar em votação a extinção do 14º e 15º salários dos parlamentares, um tema que ganhou proporção depois das reportagens deste Correio Braziliense. Ao roteiro, acrescentou ainda um efeito especial de categoria: a votação simbólica, que coloca a derrubada dos salários extras como se fosse um desejo de todos os parlamentares terminar com esses vencimentos. Na verdade, essa unanimidade é tão falsa quanto Harry Potter e uma partida de quadribol, o futebol aéreo sobre vassouras incluso na trama do menino-bruxo.
Do outro lado da Câmara, no tapete azul, o novo presidente do Senado, Renan Calheiros, também tem seus recursos cinematográficos. Além da redução das despesas da Casa, já avisou a todos que não haverá correção automáticas dos salários dos parlamentares com aqueles recebidos pelos ministros do Supremo Tribunal Federal. Se brincar, ganhará o Oscar de melhor roteiro adaptado.
E na sala de Dilma…
Hoje, a estrela do tapete palaciano será o novo líder do PMDB, Eduardo Cunha, do Rio de Janeiro. O deputado será recebido pela presidente e, a levar em conta o que dizem seus liderados, apresentará o que os produtores do filme de Dilma, no caso, o PMDB, acharam do roteiro original. Os produtores reclamam que não participam da elaboração de políticas públicas, nem sequer nos ministérios que comandam. Geralmente, recebem um prato feito. E ainda tem a insatisfação da bancada de Minas Gerais, onde os deputados Leonardo Quintão e Antonio Andrade, presidente do PMDB mineiro, protagonizam uma disputa em torno da indicação como ator coadjuvante para um cargo no governo federal.
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