RIO DE JANEIRO - "Em bunda que mamãe beijou vagabundo nenhum põe tarja", disse certa vez Paulo Francis, na Redação do "Correio da Manhã". Significava que ele nunca sairia por aí apregoando o logotipo do fabricante de suas roupas. E olhava com ar de reprovação para a etiqueta de couro no bolso traseiro do meu jeans, onde se lia, em quase meio palmo, a palavra "Lee" -obrigatória no bumbum dos garotos de 1968, mesmo os de alguns repórteres do "Correio da Manhã".
Francis tinha razão: nada mais cafona do que uma pessoa se vestir pendurada de marcas, como um piloto de Fórmula 1. Mas isso se tornou quase impossível de evitar, porque os logos vêm conspicuamente impressos nas camisas, calças e até cuecas. Pagamos por um produto e ainda temos de alardeá-lo pelas ruas.
Humilhação equivalente é a que estão se submetendo as escolas de samba cariocas em 2013. Com o declínio dos bicheiros, que sempre as sustentaram como extensões naturais de seus domínios, elas tiveram de se virar para levantar dinheiro. E foram buscá-lo em empresas privadas, governos estaduais e países estrangeiros. É assim que, entre outros, a revista "Caras", os criadores de cavalos manga-larga, a Alemanha e a Coreia do Sul botaram o seu neste ano.
Nada demais nisto -as escolas, por mais tradicionais, nunca foram o reduto da pureza, e não haveria problema em que, em seus ensaios, barracões e quadras, os logos dos patrocinadores fossem exibidos com destaque. Mas o samba perde em dignidade quando esses exigem ver seus prosaicos produtos cantados na avenida como, no passado, se cantavam Zumbi e a princesa Isabel.
No futebol, a mesma coisa. Ontem, ouvi o Campeonato Paulista ser chamado de "Paulistão Chevrolet". Estranhei. Depois entendi: ninguém na Federação se preocupou em defender o bumbum que a mãe deles beijou.
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