FOLHA DE SP - 04/02
SÃO PAULO - Desconfie, leitor, quando ouvir alguém dizer que certo procedimento "não resolve" um problema da sociedade. Duvide, também, quando topar com a assertiva oposta: se adotássemos a medida tal, solucionaríamos o impasse.
A preguiça, a inépcia e a inoperância costumam esconder-se por trás dessas argumentações finalistas, definitivas. Diz-se, por exemplo, da internação compulsória de viciados em drogas que ela não resolve o problema da dependência.
Que não seja solução geral, parece um fato inconteste. Mas será que a medida melhora algumas situações individuais? Será que esse tempo ganho, ao evitar a morte e retardar a deterioração da saúde de uma pessoa incapaz de tomar decisões, pode tornar-se uma etapa para tratamento mais efetivo à frente?
O mito da bala de prata aparece bastante no debate econômico. Para certo time de "desenvolvimentistas", basta manter desvalorizado o real para que tudo o mais se ajuste. Do outro lado estão os fanáticos pela liberdade total dos mercados.
São mais vantajosas as abordagens incrementais, que levam em conta mais de um aspecto do problema e visam à sua melhoria no tempo -nem sempre à "solução". Mas isso requer disposição para o trabalho, o aprendizado e a organização.
O Brasil desempenha-se precariamente nesse quesito. Veja a disfuncionalidade dos mecanismos de prevenção de acidentes com multidões país afora, revelada após o incêndio em Santa Maria (RS).
O objetivo -garantir dispositivos de segurança em locais que recebem aglomerações- perde-se no labirinto de corpos burocráticos estanques, mal treinados e mal controlados. O Brasil, no setor privado e no público, é sobretudo mal gerenciado.
O outro lado da moeda de tanta ineficiência muitas vezes é a especulação em torno da solução definitiva, do lance genial, da norma purificadora, que nunca virão.
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