A avaliação do Banco Central é que a safra deste ano ajudará a reduzir a pressão inflacionária. É baseado nisso que o presidente do BC, Alexandre Tombini, apesar de admitir que está "desconfortável" com a inflação, acredita que a taxa de 2013 será menor que a de 2012. Há grande chance de a safra ser boa no Brasil, mas continua a haver riscos de preços internacionais em alta.
O que o presidente do Banco Central me disse ontem é que não há descontrole inflacionário, mas a taxa está alta e continuará assim no curto prazo. Ele acredita que o número divulgado ontem pelo IBGE, de 0,86% para o IPCA de janeiro, vai ser a pior taxa mensal do ano. A de fevereiro deve ser a metade. Apesar do reajuste da gasolina e do item educação, a queda dos preços da energia vai ajudar a conter o índice em fevereiro. O acumulado em 12 meses - que com o dado de ontem foi a 6,15% - vai continuar em torno de 6% durante todo o primeiro semestre, na visão de Tombini.
- A inflação nos preocupa a curto prazo, está mostrando uma resiliência forte, mas não é o caso de descontrole inflacionário. A nossa expectativa é que ela continua pressionada no primeiro semestre. A inflação de 2013 ficará menor do que em 2012, porém a situação não é confortável - disse Tombini.
Ele disse que o Banco Central está atento à evolução da inflação, quando perguntei se era o caso de mudar a política monetária. Pelo que me explicou, há três razões pelas quais acredita que a taxa pode ceder. Primeiro, a inflação de serviços pode ser menor porque o salário mínimo não subiu tanto este ano quanto no ano passado. O segundo motivo é que o câmbio no ano passado subiu muito. Segundo Tombini, houve desvalorização nominal de 9% e uma alta, do vale ao pico, de 20%. Ele disse que não espera algo dessa magnitude este ano. Terceiro, o Brasil está colhendo uma supersafra e não se espera que aconteça nos EUA uma quebra de safra tão devastadora quanto a de 2012.
Tombini tem razão no primeiro e no segundo ponto. O terceiro é mais incerto. Conversei com José Roberto Mendonça de Barros sobre a oferta de produtos agrícolas este ano. Ele confirma que a safra de grãos em geral será muito boa, a cana deve colher 580 milhões de toneladas. Há boa perspectiva para a pecuária. E, de fato, a quebra de safra dos EUA foi tão grande no ano passado que dificilmente se repetirá na mesma proporção.
- Mas os estoques estão muito baixos nos Estados Unidos. Mesmo que não haja um desastre como o do ano passado, qualquer problema na safra terá repercussão nos preços - disse José Roberto.
Olhando por dentro dos números, há razões para inquietações. Alimentação e bebidas tiveram alta de 11% em 12 meses; despesas pessoais, 11%; educação, 7,7%; aluguéis, 9%. Cigarro, que felizmente pesa menos, disparou 38% em um ano.
Em cinco das onze capitais pesquisadas, houve estouro do teto da meta: em Belém, a taxa em 12 meses está em 8,8%; Fortaleza, 7,7%; Recife, 7,3%; Rio, 6,9%; e Salvador, 6,7%. No INPC, que mede a inflação dos mais pobres, até cinco salários mínimos, o acumulado está em 6,6%.
Os números assustam, principalmente porque se sabe que o aumento do ônibus foi postergado. O presidente do Banco Central disse que nem sempre o ônibus sobe em janeiro. Os prefeitos que aceitaram adiar o reajuste deixaram para junho, que normalmente é um mês mais tranquilo. A inflação só não foi maior porque a queda da energia já provocou efeito em janeiro, de -4%. O resto do efeito será em fevereiro.
O economista Nicolas Tingas, da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito), ouvido por Alvaro Gribel, aqui da coluna, considerou que o Brasil está numa inflação de custos e não de demanda.
- O empresário teve aumento de custos num cenário de desaceleração da economia. Ele segurou os preços, mas isso tem limite. E agora está havendo uma queda de braço na cadeia produtiva para recompor as margens. Os reajustes de preços na virada do ano foram mais fortes. Eu faço compras e percebo isso claramente - disse.
De fato, o problema não é trivial e há uma série de dados perturbadores na economia, mas o presidente do Banco Central disse que está atento, não está confortável, acha que a trajetória dos preços "inspira cuidados" e que por ora está avaliando tudo.
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