O Estado de S.Paulo - 29/01
Em meio a uma infindável discórdia, formou-se um consenso sólido no debate da política econômica no Brasil. Do mais exacerbado heterodoxo ao mais extremado ultraliberal estabeleceu-se uma unanimidade em torno da ideia de que sem retomada dos investimentos a economia brasileira não vai para a frente. A dissensão, contudo, volta com força quando se trata de avaliar se os investimentos vão afinal reagir, depois das muitas ações promovidas pelo governo com esse objetivo.
Determinar quando acordará o "espírito animal" do empresário, deflagrador de um aumento consistente no volume de investimentos, é o principal esforço de previsão macroeconômica do momento. Lembra o exercício de encontrar Wally, personagem de sucesso em livros, tiras de jornal e desenhos animados, perdido no meio de multidões, da série "Onde está Wally?". Não era fácil encontrar o tipo magro, alto e com jeito de nerd, camuflado nas cenas desenhadas, mesmo sabendo que ele estava lá.
Na busca dos investimentos, como Wally, ainda não visíveis à primeira vista, os analistas, quase sem exceção, listam um conjunto de fatores positivos. Quedas expressivas dos juros, dos spreads bancários e dos custos de financiamento no BNDES, em combinação com uma taxa de câmbio mais depreciada, estão entre os principais. Além disso, eles enumeram os cortes nas tarifas de energia, a redução de encargos em folha de pagamento, as novas regras de depreciação acelerada, favoráveis à produção de bens de capital, e as concessões públicas em setores de infraestrutura.
Acreditar que, mais cedo ou mais tarde, esse ambiente favorável levará a uma expansão dos investimentos é a regra entre os analistas, embora existam exceções. Depois de um recuo de 3,5% em 2012, o volume de investimentos, segundo os cálculos desses analistas, deverá crescer nas vizinhanças de 6% ao ano em 2013 e 2014, avançando acima da evolução prevista para o PIB. Mesmo assim, a taxa de investimento da economia deverá progredir lentamente e não deverá passar de 19% do PIB até pelo menos 2015.
O ritmo mais recente de consultas ao BNDES, para projetos de investimento, ajuda a respaldar tal crença. Em relação ao ano anterior, o volume de recursos envolvido cresceu 60% em 2012, mas o movimento ganhou velocidade no último trimestre, quando a expansão, sobre igual período de 2011, avançou 150%.
Pesquisas do banco apontam aumento nas perspectivas de investimento, no período 2013-2016, em comparação com o período 2008-2011. Além o volume forte de consultas, João Carlos Ferraz, vice-presidente e diretor de Planejamento do BNDES, observa uma diversificação de setores em busca de recursos para investir.
Para Nilson Teixeira, economista-chefe no Brasil do banco de investimento global Credit Suisse, uma variável-chave para o deslanche dos investimentos é a situação da economia global. "Incertezas globais desestimulam o investimento, mas o quadro agora é bem mais benigno", diz ele.
No cenário mais provável traçado por Teixeira, a economia global crescerá 3,5%, em 2013, em sintonia com as mais recentes estimativas do FMI, levando o investimento, no Brasil, a uma expansão de 6,5%, neste ano, e 7,5%, em 2014. São números suficientes para fazer o economista - o mesmo que, ainda no primeiro semestre de 2012, projetou, na contramão das estimativas de então, evolução de apenas 1,5% para a economia brasileira em 2012 - manter a previsão de um crescimento da economia brasileira em 4%, em 2013, novamente na contramão do mercado. Num cenário alternativo, no qual o crescimento global não passa de 2,7%, o investimento no Brasil avançaria apenas 3,1% e o PIB, somente 2,8%.
Economista-chefe do Banco Itaú, Ilan Goldfajn é um pouco menos otimista. Considera que as medidas favoráveis ao investimento são importantes, mas prefere esperar para ver. "Com exceção da infraestrutura, que depende mais do governo, os demais setores vão esperar alguma retomada da economia para aparecer", imagina ele. "O governo terá de ser mais pragmático e evitar sinais erráticos, como o tira e põe de IPI e as dúvidas sobre o caráter permanente dos cortes nas tarifas de energia."
Goldfajn espera uma definição dos rumos dos investimentos para abril. É lá que o calendário prevê os primeiros dos muitos leilões de concessões em andamento. Se não forem adiados, Wally acabará dando as caras.
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