terça-feira, janeiro 29, 2013

Cartas na manga - MIRIAM LEITÃO


O GLOBO - 29/01


O governo tem várias cartas na manga para lidar com a inflação este ano. A redução dos preços de energia terá um primeiro impacto em janeiro e a maior parte do efeito em fevereiro. Mesmo assim, o acumulado deve passar de 6% no IPCA deste mês. Mas, em seis das 11 capitais pesquisadas pelo IPCA, haverá outra revisão tarifária de energia, o que vai atenuar o impacto das termelétricas.

Quando foi feita a privatização, estabeleceu-se um prazo para as empresas passarem por uma revisão tarifária, pelo que era chamado de Fator X. Esse fator redistribui para o consumidor parte do ganho de produtividade das distribuidoras. Este ano, Cemig, Light, Goiás, Pernambuco, Bahia e as duas do Rio Grande do Sul farão a revisão tarifária ao longo do segundo semestre, o que neutralizará parte do impacto do aumento do uso das termelétricas. Essa é a análise do economista Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio.

A queda do preço da energia vai começar o seu efeito este mês. A antecipação do anúncio evitará que em janeiro o índice fique perto de 1%.

- Iria fechar em 0,95%, mas na última semana do mês entra a queda da energia. Em fevereiro, será a maior parte do ganho. Aí, mesmo com o impacto da educação - que no IPCA é em fevereiro -, o mês não será tão alto. O primeiro trimestre pode terminar acima do 1,22% do ano passado, mas se não houvesse a queda da gasolina e a postergação do aumento do ônibus no Rio e em São Paulo chegaria a 2% - disse Luiz Roberto.

Não que ele concorde com essa administração de preços iniciada pelo governo. Acha que em grande parte o que se consegue é apenas postergar, mas o governo pode estar querendo que esses aumentos de ônibus e metrô de São Paulo ocorram em junho, mês de menores pressões inflacionárias. No entanto, mesmo sendo num mês fraco, o acumulado em 12 meses pode, em junho, superar os 6,5%.

Resta saber quando vai aumentar a gasolina. Se o governo anunciar em fevereiro, será junto com educação, que sobe bastante. Luiz Roberto acha que o governo deve jogar para abril e anunciar ao mesmo tempo em que eleva a mistura do álcool à gasolina, para reduzir o impacto no preço ao consumidor.

No segundo semestre, há um impacto forte da entressafra de alguns alimentos, mas no ano passado foi mais forte, lembra Luiz Roberto, porque houve uma enorme seca nos Estados Unidos, que quebrou a safra do trigo, soja e milho.

- A esperança é que não se repita a mesma seca, e que volte ao padrão normal. Mas os extremos do clima estão ficando mais constantes; a Austrália está passando por uma onda de calor; e a China, por um enorme frio. Se houver problemas de safra a situação volta a piorar - disse.

Um grupo de produtos que pode subir este ano é o de bens de consumo duráveis, que tiveram deflação em 2011 e 2012, pela queda do IPI. Este ano, a tendência é ele ficar mais alto.

Há uma outra carta na manga que o governo pode usar em algum momento, quando for conveniente. No ano passado, o governo vetou a isenção tributária da cesta básica quando foi aprovada no Congresso. Mas, na época, criou um grupo de trabalho para negociar com os estados a redução do ICMS nesses produtos.

- Existem alguns impostos federais, como PIS/Cofins, mas o ganho seria maior com a adesão dos estados. Isso pode ajudar a atenuar o impacto inflacionário, quando for anunciado - disse o economista.

Mesmo com tudo isso, o IPCA de janeiro pode levar a inflação de 12 meses a 6%. Depois, volta a cair, mas sobe novamente e pode passar o teto da meta. Há uma chance de reduzir no segundo semestre, terminando em 5,7% e 5,8%. Na opinião de Cunha, esse é o melhor cenário.


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