O GLOBO - 02/01
De lá para cá, e mesmo antes disso, as autoridades da Infraero ficaram cansadas de aparecer nas páginas de jornal garantindo que “nos próximos meses”, todos os elevadores seriam substituídos, as escadas rolantes estariam funcionando, as goteiras seriam tapadas, as lojas seriam reabertas, as lanchonetes funcionariam, as esteiras de malas seriam modernizadas...
Os problemas do Galeão não têm três ou quatro anos como pode sugerir a visita que Cabral e Lula fizeram a ele. Os problemas tornaram-se mais sérios quando o Rio ganhou o direito de sediar as Olimpíadas de 2016 e tornou-se uma das cidades-sede da Copa do Mundo de 2014. Há três ou quatro anos apenas acreditava-se que ainda daria tempo de serem eliminadas as barbaridades que ocorrem no Galeão.
Este colunista confessa que sempre foi otimista em relação ao futuro do Galeão. Afinal, pior do que ele estava há três ou quatro anos era impossível ficar. A tendência só podia ser melhorar. E, se todas as autoridades do país admitiam que ele estava caindo aos pedaços, o que poderia impedir suas melhorias? Pois me enganei. O Galeão piorou, sim. E muito. Ele caiu aos pedaços. Ele deveria ser interditado. O Galeão faz mal à saúde. E o que autoridades dizem não é para ser escrito. Ninguém fez nada, no governo estadual ou no federal, para que o Galeão fosse interrompido na sua corrida para se tornar o pior aeroporto do mundo. Pois ele chegou lá. E vai ser difícil, muito difícil, arrancá-lo do posto conquistado a duras penas.
Eu estava no Galeão, na agora célebre quarta-feira passada, quando um apagão levou o aeroporto ao fundo do poço. Quando cheguei, as luzes já tinham se apagado. As portas estava abertas, vários passageiros tentavam pegar um pouco de ar do lado de fora (foi o dia mais quente do ano, lembram?) e lá dentro estava o caos. O aeroporto não estava totalmente às escuras. No Terminal 2, para onde me dirigi, o black-out atingia a área ocupada pelo ckeck-in de três companhias aéreas: a Delta, a British Airways e a American Airlines. Era impossível saber o que o passageiro deveria fazer. A boa vontade de uma funcionária da Delta amenizou o problema. Era ela quem indicava onde ficava a fila de cada companhia. Fiquei numa fila que supostamente levaria ao check-in do meu voo. E esperei, esperei, esperei.
Até as luzes voltarem, minha espera demorou exatamente 60 minutos. É por isso que não entendo essas declarações da Light de que em dez minutos a energia retornou e de que, em 15 minutos, tudo estava normalizado. Eu passei por 60 minutos sem luz e, quando cheguei, já não havia energia. O black-out, portanto, demorou mais de uma hora. E, durante todo esse tempo, não recebi explicação alguma da Infraero. A mais ineficiente das empresas públicas brasileiras simplesmente deixou os passageiros agirem por conta própria.
No escuro, encontrei três funcionários uniformizados. Eram da limpeza. Imagino que terceirizados. Eles não sabiam de nada. Apenas se limitavam a recolher garrafas de água vazias no chão para jogá-las no lixo. A única informação veio de uma funcionária da British que, em vez de se esconder, como costumam fazer os funcionários das companhias brasileiras, tentava explicar alguma coisa aos passageiros que a questionavam. Ela disse que estava entrando em contato de dez em dez minutos com as autoridades do Galeão e não tinha novidades. Mas o aeroporto não tem gerador? “Eles dizem que estão tentando ligar o gerador manualmente”, relatava.
Os homens começaram a tirar as camisas, as mulheres não paravam de se abanar, o consumo de água mineral subiu. A luz, enfim, voltou e eu, ingenuamente, imaginei que estava tudo resolvido. A British foi eficientíssima, conduzindo o check-in com rapidez (o voo atrasou apenas meia hora). Imagino que na American a situação tenha sido pior pois a empresa tinha três voos diferentes para despachar. Mas eu estava encerrando apenas o primeiro capítulo da confusão.
No salão de embarque, o Galeão de sempre reapareceu. Não havia ar refrigerado. Eu precisava me dirigir ao lounge da British no terceiro andar. As escadas rolantes não funcionavam. Como a minha camisa estava encharcada de suor, pensei em comprar uma camiseta. As lojas estavam fechadas, com cara de que estavam fechadas para sempre. Não houve chamada para o voo. Uma mulher apareceu gritando “portão 10”, “portão 10”, e meus companheiros de viagem saíram correndo em bando como se estivéssemos sendo resgatados pela exército britânico após um ataque terrorista.
Falta de luz, falta de ar refrigerado, falta de escada rolante, falta de lojas... o Galeão sempre foi assim. Por que então tornou-se o pior aeroporto do mundo? Porque, durante todo esse tempo, a Infraero não se preocupou em dar uma única explicação ou um pedido de desculpas aos usuários de seu aeroporto. Quando a autoridade não se preocupa mais nem com sua imagem, é porque a situação não tem mais jeito. Galeão ? Veta, Dilma!
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