FOLHA DE SP - 03/01
Vai ser certamente mais difícil destravar a educação do que a infraestrutura. Há uma série de medidas que o Brasil tem de tomar na área o quanto antes
O Brasil possui dois grandes gargalos que travam seu crescimento potencial: infraestrutura e educação.
O mais grave e de solução mais difícil certamente é o segundo.
A última avaliação da ONU, o Pisa, classificou o Brasil em 53º entre 65 países avaliados. Enquanto os russos fizeram 459 pontos em leitura, a nota do Brasil foi 412. Mas, a Rússia ficou somente em 43ª na classificação. Os líderes são os chineses de Xangai. Eles fizeram 556 pontos no exame da ONU.
Infelizmente, essa distância não pode ser reduzida no curto prazo. Os resultados de políticas adotadas hoje levarão pelo menos uma década para serem percebidos. O maior desafio é o aprendizado.
Melhorar a educação requer investimentos. O primeiro deles é valorizar os professores de modo que a carreira se torne atrativa, tanto do ponto de vista financeiro quanto do reconhecimento da sociedade.
O salário anual de um professor do ensino fundamental nos Estados Unidos é próximo dos US$ 55 mil. Esse valor é 20% superior à renda per capita americana e corresponde a 64% do salário de um engenheiro. No Brasil, a lei atual prevê que um professor receba no mínimo R$ 1.451 ao mês, algo em torno de US$ 9 mil ao ano. Esse valor é 20% inferior à renda per capita brasileira e corresponde a apenas 35% do salário médio de um engenheiro no Brasil. Mas isso não é tudo. Muitos Estados e municípios não pagam nem mesmo o piso fixado em lei!
Além de corrigir distorções salariais, mudar o quadro educacional do país requer medidas que deram certo em outros países.
A primeira é avaliar os alunos de forma contínua nas principais áreas: língua portuguesa e matemática. Mais do que avaliar, é necessário detectar os problemas específicos de cada série, item por item.
Se os alunos foram mal ao calcular proporções de triângulos, então que seja repensado o modo de ensino dessa matéria. Isso significa usar a avaliação não só para classificar escolas, mas também para melhorar o ensino.
A segunda forma de melhorar o ensino é por meio da remuneração por desempenho. Ou seja, premiar professores e principalmente gestores de escolas que apresentem melhores resultados ao longo do tempo. Isso cria incentivos e valoriza os profissionais, desde que seja feito de forma cuidadosa, levando-se em conta as diferenças econômicas e sociais do entorno de cada escola.
Outros dois passos são fundamentais para mudar nossa educação.
O primeiro é o aumento do número de horas de ensino. Enquanto os chineses estudam mais de oito horas por dia, a carga horária brasileira, quando cumprida, é de cinco. Não há dúvidas de que mais horas de ensino resultam em melhor desempenho. Além disto, existe evidência de que a redução do número de alunos em sala de aula melhora o aprendizado. Uma sala com 25 alunos é muito mais fácil de ser administrada do que uma sala com 40 alunos.
A mudança da pirâmide demográfica brasileira pode facilitar o trabalho dos governantes nos próximos anos com relação a estes dois últimos passos. Com mais verba para a educação, o Brasil terá uma oportunidade imensa até o final desta década para garantir um bom desempenho na próxima.
Todas as medidas listadas acima tomam tempo. Não podemos esperar mais. Este é o gargalo mais apertado do crescimento do país e sabemos como alargá-lo. Agora cabe à sociedade se organizar e cobrar agilidade dos governantes quanto à apresentação de resultados e propostas.
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