O GLOBO - 01/01/13
Missão estratégica de Ano Novo para o governo deve ser uma autocrítica para entender por que não consegue levar o empresariado a investir
Em um balanço de fim de ano, o ministro da Secretaria Geral da presidência, Gilberto Carvalho, ponte entre o PT lulista e a presidente Dilma, confessou que o governo ficou “perplexo” com o baixo crescimento da economia em 2012. Na entrevista, concedida ao programa “É Notícia”, da Rede TV, Gilberto Carvalho disse, ainda, na tentativa de contrabalançar a frustração com o resultado ruim da política econômica no ano passado, que talvez a metodologia de cálculo do PIB seguida pelo IBGE não tenha captado todos os movimentos da produção. E que, por isso, o assunto estará em pauta no governo, para se saber se a anêmica evolução do país em 2012 foi mesmo “real”.
Duas impropriedades nas percepções ministeriais. Uma delas, a que, diante da febre alta, passa-se a culpar o termômetro, conhecido cacoete de governantes diante de más notícias. A suspeita sobre os métodos de aferição do “pibinho” calculado pelo IBGE, nascida no Ministério da Fazenda, pode até fazer sentido técnico — só saberemos disso nas revisões periódicas que o IBGE faz de seus indicadores —, mas causa temores de que se possa pensar em seguir o desastroso caminho argentino de intervir politicamente na aferição de índices. Numa visão otimista, estimulada pelo clima de Ano Novo, estamos a léguas de distância deste desastre — devido à sensatez do Planalto e ao merecido respeito técnico ao IBGE. Esperamos.
Outra impropriedade é a perplexidade revelada pelo ministro. Ora, ela não faz sentido, pois há meses analistas alertam que a política de incentivo ao consumo havia se esgotado. Os cortes de IPI para vários bens (veículos, linha branca) já tinham antecipado o consumo ao limite, e o endividamento das famílias atingira o teto. A hora era, portanto, mais do que nunca, de estímulo ao investimento. E continua a ser.
Não que o governo rejeite estimular os investimentos na ampliação da capacidade produtiva e numa depauperada infraestrutura. Ele dá sinais é de não saber como fazê-lo. O importante dever de casa do corte dos juros está feito ou quase. Mas não basta. Se bastasse, os Estados Unidos, há tempos com os juros básicos quase zero, já ostentariam grande vitalidade econômica.
Este ano, o governo precisa, mais uma vez, aprender fazendo. Projeta-se um crescimento de 3%, nada mal diante do cerca de 1% de 2012. Mas, até por efeito estatístico — a base de comparação é baixa —, não deve ser difícil chegar a este nível.
A questão é como elevar a poupança (19% do PIB) e, por tabela, a ínfima taxa de investimento (18,7%). O Planalto não tem despertado o “espírito animal”, termo de Keynes, do empresariado, para levá-lo a assumir riscos. Este aconselhável exercício oficial de autocrítica deveria passar, no mínimo, pelas ações estabanadas de intervenção em mercados e nos maus agouros que trazem o fato de, mesmo com um “pibinho”, a inflação se aproximar dos 6%, um ponto e meio acima do centro da meta. Esta mistura sempre foi indigesta.
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