FOLHA DE SP - 15/12
O grande desafio é ampliar o número de produtores que fazem parte do agronegócio de sucesso
Agricultura é um conceito amplo. Engloba todo produto de origem animal e vegetal que chega à mesa do brasileiro.
Começa pela madeira usada na construção da mesa, passa pela toalha de algodão que forra essa mesa e tem representação dupla nas carnes.
O frango e o porco são produtos agrícolas que têm como principal alimento a ração produzida à base de cereais. A produção de leite, para ter melhor rendimento e constância, também depende das rações à base de grãos.
É comum a confusão entre agricultura e agronegócio. A agricultura diz respeito ao trabalho do agricultor, da preparação da terra à colheita ou venda dos animais.
O conceito de agronegócio vai além. Abarca a agricultura e inclui as indústrias que produzem insumos dos quais o agricultor lança mão, bem como a indústria que beneficia a produção agrícola e toda a distribuição dos produtos comercializados.
Essa ampla agricultura brasileira, que há muito deixou de ser mera exportadora de commodity, é baseada em forte aparato tecnológico. Falar de agricultura no Brasil atual é discorrer sobre um universo rural de alta tecnologia, do qual a população urbana desfruta, mas pouco vê.
Sementes adaptadas são desenvolvidas com grande esforço por pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Aí vêm as máquinas agrícolas, os defensivos, os fertilizantes, o emprego da biotecnologia para modificação das variedades adaptadas.
E ainda temos técnicas de seleção genética, fertilização in vitro e clonagem, largamente empregadas na produção animal, inclusive de peixes.
A despeito do romantismo que pressupõe a atividade de criar, plantar e colher, a disputa entre cada elo da cadeia por maior fatia do lucro do setor nada tem de poética.
O elo mais frágil é o agricultor. Ainda que faça uso da tecnologia, como regra geral ele o faz, não há como superar essa condição de fragilidade, especialmente se o agricultor não tiver escala de produção.
O grande desafio é ampliar o número de produtores que fazem parte do agronegócio de sucesso. Não interessa ao agro ser uma ilha de prosperidade e, sim, um continente de sucesso.
Aumentar, fortalecer e consolidar uma classe média rural deve ser o esforço de todos, como foi com a classe média urbana.
Esse caminho só será possível se fizermos com que toda inovação e toda tecnologia existentes no país cheguem à maioria dos produtores. Hoje, poucos têm acesso ao aparato tecnológico existente.
O instrumento capaz de democratizar o saber e a tecnologia no campo é a rápida implementação de uma política de extensão rural ou de assistência técnica.
Qualificar tecnicamente os produtores para que façam escolhas corretas, para que formatem um plano de negócios e melhorem sua capacitação gerencial são tarefas absolutamente indispensáveis.
São esses instrumentos que nos permitirão multiplicar a produção de nossas terras, sem que se desmate uma única árvore sequer.
O ato de disseminar conhecimento e tecnologia é quase uma profissão de fé. É a forma mais sustentável e honesta de proteger as pessoas e os seus negócios.
Enquanto governos de vários países subvencionam suas agriculturas mundo afora, injetando bilhões de dólares no setor, aqui não existe uma agricultura subsidiada.
O produtor trabalha com o controle de custo na mão e, na hora de definir seu sistema de produção, busca, no mercado, as tecnologias desenvolvidas a duras penas pela Embrapa e pelos produtores de insumo.
Nossa escolha é a busca da inovação, que faz com que possamos superar desafios do danoso custo Brasil.
A agricultura brasileira -que hoje sustenta a balança comercial, gera mais de 1 milhão de empregos a cada ano e participa com 22,5% de toda a riqueza produzida na nação- não vive de benesses governamentais. E não se queixa disso.
Só nos países ricos a sociedade pode se dar ao luxo de bancar a ineficiência de setores da economia que se recusam a investir em tecnologia e inovação, e vivem à caça de subsídios.
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