Chegando o fim do ano, as análises começam a fazer previsões sobre a economia para o próximo ano. Elas se encontram marcadas pelo impacto do PIB deste terceiro trimestre de parcos 0,6% em relação ao anterior, frustrando as expectativas do governo e da maioria dos analistas que previam crescimento de 1%.
Segundo o ex-presidente do Banco Central, Francisco Lopes, o IBGE errou ao não considerar devidamente a expansão do crédito. Esse erro levou ao 0,6%. Se corrigido, o crescimento seria de 1,2%.
Há que avaliar em detalhe a metodologia do IBGE para esclarecer essa importante questão. Caso se confirme o 0,6%, vamos iniciar 2013 devagar. Caso contrário, a economia já estaria rumando para crescimento em 4%.
Enfim, haja o que houver, é necessário continuar pilotando a economia em ambiente internacional hostil, que dificulta crescer em níveis próximos a 4%. Falta potencial na economia brasileira para objetivar expansões desse nível? Não creio.
Refuto o diagnóstico de que o consumo atingiu seu limite em razão do que consideram excesso de endividamento das famílias. Daí o motor do crescimento deixaria de ser o consumo e passaria a ser o investimento.
Esse tipo de análise é perigoso, pois se o consumidor não vai comprar, o comércio não vai vender e a indústria não vai produzir e, muito menos investir.
É interessante notar que, em autêntico efeito manada, a maior parte dos economistas passou a defender que a chave do deslanche é o investimento, e o Brasil não cresce o que deveria pois o índice de 18% do PIB nos investimentos está aquém do nível necessário de 22%.
Como ressaltei em artigo anterior, não existe evidência empírica que justifique esses 22%, pois na década de 50, o País cresceu em média 7,4% por ano e a taxa de investimento média nesse período foi de 16,4% (!). Na década de 60, cresceu 6,2% ao ano com taxa de 18,2% (!); na década de 80, cresceu, apenas 1,7% ao ano com taxa de 21,8% (!). Na década de 90, o crescimento foi de 2,5% e a taxa 18,6% e na última década 3,6% e taxa de 17,7%.
O perigo dessa "tese" é que enquanto não atingir os tais 22% não vamos crescer os 4% ao ano. Isso é paralisante e enganoso e, se o governo comprar isso vai fracassar de novo, pois o investimento não é a causa, mas a consequência da expansão do consumo.
Para sair desse imbróglio é importante verificar qual tem sido o motor do crescimento. A consulta às contas nacionais revela que antes da crise, considerando o melhor período (2004/2008), o País cresceu em média por ano 4,8%. O consumo das famílias foi responsável por 56% deste crescimento, o governo por 21%, os investimentos por 25% e o setor externo (exportação menos importação) por menos 2%.
Após a crise do fim de 2008, nos últimos três anos (2009/2011), o fio condutor do crescimento continuou sendo o consumo das famílias, só que aumentou sua participação, sendo responsável por 70% desse crescimento, seguido por 24% por causa das despesas do governo, ficando 8% para os investimentos e menos 2% devido ao fator externo.
Assim, em primeiro lugar, cabe dar a devida importância à força que tem o consumo como principal indutor do crescimento. Em segundo lugar, o papel importante do governo, que face a redução da atividade empresarial cumpre seu papel em ação contracíclica ao injetar recursos na economia. Em terceiro lugar, uma observação interessante é que o setor externo não reduziu praticamente nada do crescimento do País, nem antes nem após a crise.
Os investimentos foram importantes na época de vacas gordas e se justificavam, pois as empresas precisavam correr atrás da expansão do consumo. Ao contrário do que é hoje em todo o mundo. O empresário face a crise que não passa e que pode de uma hora para a outra trazer mais problemas do que já enfrenta é cauteloso face aos riscos de encerramento de atividades.
Assim, não creio que esteja na hora de abandonar o fio condutor do crescimento, trocando-o pelo difícil caminho do investimento. Se o governo for trilhar esse caminho tem tudo por amargar nova derrota como a que ocorreu neste ano, quanto fez política dupla (consumo e produção), ambas frágeis. Vejamos.
Trava ao consumo. O governo procurou estimular o consumo ao iniciar a cruzada pela redução das taxas de juros bancárias, pondo o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal na frente dessa luta para induzir o sistema bancário privado a fazer o mesmo.
Funcionou um pouco no começo, mas depois, como os bancos privados quase não se mexeram, o governo deixou de pressioná-los. A Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) que acompanha as taxas de juros bancárias em todas as suas modalidades, mostra que antes da ofensiva do governo essas taxas ao ano para o consumidor estavam em 107%. Atingiram o mínimo em outubro indo para 90% e subiram em novembro para 93%.
Se olharmos duas modalidades muito usadas pelas pessoas, o cartão de crédito e o cheque especial as taxas de juros foram de 193% e 150% respectivamente! Nos países emergentes ela é de 10%! .
Essa é a principal trava ao consumo. Quem quer comprar um bem financiado em 12 meses vai pagar, no mínimo, o valor do bem, mais o mesmo valor em juros.
Estímulo às empresas. Mas o que mais fez o governo neste ano foi tentar estimular as empresas. Para isso reduziu o IPI para automóveis, linha branca e construção civil e acabou com a quota patronal de 20% sobre a folha de pagamento trocando-a para 1% a 2% sobre o faturamento para 40 setores. Essa desoneração está sendo paga pela Previdência Social (?) que até agora não foi ressarcida pelo Tesouro Nacional.
Essas desonerações são limitadas, pois o governo não tem fôlego maior para abrir mão de receita em época de queda de arrecadação devido ao baixo crescimento econômico. Se reduzisse mais a Selic, teria esse fôlego, mas não parece que vai fazer isso, pois ainda é dominado pela crença de que a Selic controla a inflação.
Proposta. As perspectivas para 2013 vão depender da política que o governo adotar. Caso não mude o que vem fazendo, especialmente apostando que às desonerações vão fazer as empresas voltarem a produzir, não irá além do pífio 1% de crescimento previsto para este ano.
Caso tire o pé do freio, reduzindo as taxas de juros bancárias, destrava a expansão do consumo e todos saem ganhando: o consumidor por melhorar seu poder de compra sem alterar seu salário, o produtor por ter maior chance de ampliar venda e produção e a sociedade pelos frutos gerados pelo crescimento econômico.
Para não vazar a expansão do consumo para o produto importado torna-se necessário desvalorizar o real em 20%, levando-o a R$ 2,50, que é o nível necessário para equilibrar as contas externas. Não creio que vá ter problemas com a inflação, pois de agosto de 2011 para cá, o real foi desvalorizado em 31% e a inflação continuou no nível atual. O governo precisa perder o medo da inflação e tirar o pé do freio se quiser crescer.
Segundo o ex-presidente do Banco Central, Francisco Lopes, o IBGE errou ao não considerar devidamente a expansão do crédito. Esse erro levou ao 0,6%. Se corrigido, o crescimento seria de 1,2%.
Há que avaliar em detalhe a metodologia do IBGE para esclarecer essa importante questão. Caso se confirme o 0,6%, vamos iniciar 2013 devagar. Caso contrário, a economia já estaria rumando para crescimento em 4%.
Enfim, haja o que houver, é necessário continuar pilotando a economia em ambiente internacional hostil, que dificulta crescer em níveis próximos a 4%. Falta potencial na economia brasileira para objetivar expansões desse nível? Não creio.
Refuto o diagnóstico de que o consumo atingiu seu limite em razão do que consideram excesso de endividamento das famílias. Daí o motor do crescimento deixaria de ser o consumo e passaria a ser o investimento.
Esse tipo de análise é perigoso, pois se o consumidor não vai comprar, o comércio não vai vender e a indústria não vai produzir e, muito menos investir.
É interessante notar que, em autêntico efeito manada, a maior parte dos economistas passou a defender que a chave do deslanche é o investimento, e o Brasil não cresce o que deveria pois o índice de 18% do PIB nos investimentos está aquém do nível necessário de 22%.
Como ressaltei em artigo anterior, não existe evidência empírica que justifique esses 22%, pois na década de 50, o País cresceu em média 7,4% por ano e a taxa de investimento média nesse período foi de 16,4% (!). Na década de 60, cresceu 6,2% ao ano com taxa de 18,2% (!); na década de 80, cresceu, apenas 1,7% ao ano com taxa de 21,8% (!). Na década de 90, o crescimento foi de 2,5% e a taxa 18,6% e na última década 3,6% e taxa de 17,7%.
O perigo dessa "tese" é que enquanto não atingir os tais 22% não vamos crescer os 4% ao ano. Isso é paralisante e enganoso e, se o governo comprar isso vai fracassar de novo, pois o investimento não é a causa, mas a consequência da expansão do consumo.
Para sair desse imbróglio é importante verificar qual tem sido o motor do crescimento. A consulta às contas nacionais revela que antes da crise, considerando o melhor período (2004/2008), o País cresceu em média por ano 4,8%. O consumo das famílias foi responsável por 56% deste crescimento, o governo por 21%, os investimentos por 25% e o setor externo (exportação menos importação) por menos 2%.
Após a crise do fim de 2008, nos últimos três anos (2009/2011), o fio condutor do crescimento continuou sendo o consumo das famílias, só que aumentou sua participação, sendo responsável por 70% desse crescimento, seguido por 24% por causa das despesas do governo, ficando 8% para os investimentos e menos 2% devido ao fator externo.
Assim, em primeiro lugar, cabe dar a devida importância à força que tem o consumo como principal indutor do crescimento. Em segundo lugar, o papel importante do governo, que face a redução da atividade empresarial cumpre seu papel em ação contracíclica ao injetar recursos na economia. Em terceiro lugar, uma observação interessante é que o setor externo não reduziu praticamente nada do crescimento do País, nem antes nem após a crise.
Os investimentos foram importantes na época de vacas gordas e se justificavam, pois as empresas precisavam correr atrás da expansão do consumo. Ao contrário do que é hoje em todo o mundo. O empresário face a crise que não passa e que pode de uma hora para a outra trazer mais problemas do que já enfrenta é cauteloso face aos riscos de encerramento de atividades.
Assim, não creio que esteja na hora de abandonar o fio condutor do crescimento, trocando-o pelo difícil caminho do investimento. Se o governo for trilhar esse caminho tem tudo por amargar nova derrota como a que ocorreu neste ano, quanto fez política dupla (consumo e produção), ambas frágeis. Vejamos.
Trava ao consumo. O governo procurou estimular o consumo ao iniciar a cruzada pela redução das taxas de juros bancárias, pondo o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal na frente dessa luta para induzir o sistema bancário privado a fazer o mesmo.
Funcionou um pouco no começo, mas depois, como os bancos privados quase não se mexeram, o governo deixou de pressioná-los. A Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) que acompanha as taxas de juros bancárias em todas as suas modalidades, mostra que antes da ofensiva do governo essas taxas ao ano para o consumidor estavam em 107%. Atingiram o mínimo em outubro indo para 90% e subiram em novembro para 93%.
Se olharmos duas modalidades muito usadas pelas pessoas, o cartão de crédito e o cheque especial as taxas de juros foram de 193% e 150% respectivamente! Nos países emergentes ela é de 10%! .
Essa é a principal trava ao consumo. Quem quer comprar um bem financiado em 12 meses vai pagar, no mínimo, o valor do bem, mais o mesmo valor em juros.
Estímulo às empresas. Mas o que mais fez o governo neste ano foi tentar estimular as empresas. Para isso reduziu o IPI para automóveis, linha branca e construção civil e acabou com a quota patronal de 20% sobre a folha de pagamento trocando-a para 1% a 2% sobre o faturamento para 40 setores. Essa desoneração está sendo paga pela Previdência Social (?) que até agora não foi ressarcida pelo Tesouro Nacional.
Essas desonerações são limitadas, pois o governo não tem fôlego maior para abrir mão de receita em época de queda de arrecadação devido ao baixo crescimento econômico. Se reduzisse mais a Selic, teria esse fôlego, mas não parece que vai fazer isso, pois ainda é dominado pela crença de que a Selic controla a inflação.
Proposta. As perspectivas para 2013 vão depender da política que o governo adotar. Caso não mude o que vem fazendo, especialmente apostando que às desonerações vão fazer as empresas voltarem a produzir, não irá além do pífio 1% de crescimento previsto para este ano.
Caso tire o pé do freio, reduzindo as taxas de juros bancárias, destrava a expansão do consumo e todos saem ganhando: o consumidor por melhorar seu poder de compra sem alterar seu salário, o produtor por ter maior chance de ampliar venda e produção e a sociedade pelos frutos gerados pelo crescimento econômico.
Para não vazar a expansão do consumo para o produto importado torna-se necessário desvalorizar o real em 20%, levando-o a R$ 2,50, que é o nível necessário para equilibrar as contas externas. Não creio que vá ter problemas com a inflação, pois de agosto de 2011 para cá, o real foi desvalorizado em 31% e a inflação continuou no nível atual. O governo precisa perder o medo da inflação e tirar o pé do freio se quiser crescer.
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