CORREIO BRAZILIENSE - 03/12
O ano sem eleição desponta daqui alguns dias e com ele a hora em que os atores da política se atacam uns aos outros no sentido de levar a vantagem logo ali na frente, leia-se na próxima eleição. Ocorre que, em meio à Operação Porto Seguro, o ano não-eleitoral chegou mais cedo. Não que a operação da Polícia Federal seja política. Mas ela dá instrumentos para que a oposição coloque sobre a mesa dúvidas sobre a capacidade de a presidente Dilma Rousseff identificar os malfeitos.
A operação, que tem como personagem mais ilustre a ex-chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo Rosemary Noronha domina o noticiário há uma semana. Até o final do julgamento do mensalão saiu das manchetes para dar lugar a Rose e seus apadrinhados, acusados de tráfico de influência e corrupção passiva. Passada a primeira semana, a oposição se refere aos tentáculos de Rosemary como fruto da incapacidade da presidente Dilma Rousseff em coibir os malfeitos.
Quem teve o cuidado de ler o artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ontem nos jornais obteve uma pílula do que vem pela frente nesse contexto. Para aqueles que leram, peço licença para relembrar aos demais alguns aspectos do texto de FHC. Sob o título “Melancolia e revolta”, o ex-presidente discorre sobre os últimos escândalos dizendo que não falará deles. Em seguida, numa série de interrogações, discorre sobre projetos e ações do atual governo com uma ironia sem par.
Fernando Henrique diz, por exemplo, que calará sobre os efeitos da redução do IPI dos automóveis, “os prefeitos que cuidem de aumentar ruas e avenidas para dar cabida a tanto bem-estar… e os moradores das grandes cidades que se munam ainda mais paciência para enfrentar mais congestionamentos”.
O ex-presidente é enfático ao dizer que a iniciativa para redução de energia elétrica, a discussão do momento entre os senadores, teve como resultado imediato a perda de valor das ações das empresas. Fala ainda do trem-bala, um mega projeto que ainda não saiu do papel, cita a brigalhada dentro do novo sistema de exploração do pré-sal que até agora só produziu confusão e riqueza que é bom, nada.
Por falar em ênfase…
Fernando Henrique é incisivo ao dizer que a maioria do Congresso “prefere calar e se submeter docilmente ao Poder Executivo”. Nas entrelinhas, acusa o governo Dilma de não mostrar indignação com os malfeitos, tampouco fazer carga para apurá-los. Ora, para bons entendedores, e o governo está cheio deles, Fernando Henrique Cardoso faz um ensaio geral do que será lembrado dia e noite pelos oposicionistas ao longo do próximo ano.
A largada de 2013 vem no sentido de desconstruir a imagem de Dilma como gestora. E os elementos não precisam ser tirados da cartola ou inventados. Basta relacionar a paralisia de obras do governo federal que a presidente ainda não conseguiu agilizar.
Junto com as críticas à gestão por parte dos oposicionistas, vem pela frente ainda as reclamações, revestidas no quesito “sugestões”do PSB. O ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, tem dito que a redução do IPI a alguns setores, como o de automóveis, não trouxe o reflexo esperado no crescimento. Sugeriu recentemente que se inclua aí o setor de alimentos e aqueles que gerem mais empregos. Em 2013, os socialistas devem colocar esses pedidos no megafone, até porque, o PIB ainda não mostrou essa recuperação toda que o governo esperava. Ou seja, o jogo de empurra vem quente e por vários ângulos. Dilma que se cuide.
Enquanto isso, em 2012…
Para as próximas três semanas de trabalho do Parlamento, a ordem do governo é não tomar mais gols. Portanto, a estratégia é segurar as investidas para votar a derrubada do fator previdenciário e mudanças radicais no texto que trata da rgulamentação do setor elétrico. E, de quebra, evitar a análise de vetos. No Planalto, há quem diga que se Dilma chegar ao final do ano sem mais marolas nessa área já estará de bom tamanho. Ali, para muitos, já bastam as punhaladas que Lula disse ter recebido e que vão tomar o noticiário nos próximos dias. Não por acaso, Fernando Henrique começa a bater em Dilma. Afinal, enquanto todos tratam da vida de Lula, ela segue livre para o ataque. Não é à toa que FHC cuidou de colocá-la no centro do ringue.
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