FOLHA DE SP - 21/11
SÃO PAULO - Um grupo tenta refundar a Arena, o partido que deu sustentação à ditadura, e o Senado aprova projeto de lei que obriga escolas de ensino fundamental a ministrarem a disciplina Cidadania Moral e Ética -um novo nome para a velha Moral e Cívica dos militares. Parem o Brasil que eu quero descer.
Embora a primeira iniciativa pareça mais grotesca, é a segunda que me preocupa. No primeiro caso, estamos diante de um bando de jovens que, provavelmente devido à ausência de boas aulas de história, não entendeu que golpes de Estado são um péssimo jeito de solucionar conflitos políticos. De resto, as chances de a coisa prosperar são diminutas.
No segundo, o que temos é uma das Casas do Legislativo, sem reflexão e contra parecer das autoridades educacionais, aderindo a uma palavra de ordem que poderá fazer mal ao já capenga ensino brasileiro.
É incrível que senadores ainda não tenham compreendido que assistir a aulas de ética não torna ninguém ético. Seres humanos são bons em apreender e assimilar os valores do grupo em que estão inseridos. Ninguém precisa ouvir de um professor que o assassinato é ilegal para descobrir que é errado matar uma pessoa. O código moral não chega a ser item de fábrica do homem, mas a capacidade para perceber as necessidades do grupo e a propensão para, no mais das vezes, cooperar é.
Há, decerto, casos em que deixamos de fazê-lo. Eles envolvem combinações de causas situacionais (necessidade premente, pressão dos pares etc.) e disposicionais (personalidade explosiva, violenta etc.).
Assim, ensinar Moral e Ética fica em algum ponto entre a propaganda (que pode ser útil em circunstâncias especiais) e a redundância. Mas, num contexto em que nosso ensino básico falha em objetivos bem mais factíveis como ensinar português e matemática, desperdiçar tempo e recursos com disciplinas meio quiméricas é um crime contra a garotada.
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