O GLOBO - 21/11
A Barra da Tijuca paga atualmente um alto preço pelo desenfreado (e desordenado) modo de ocupação que, a partir do último quarto do século passado, transformou completamente essa região da Zona Oeste do Rio. Como consequência inevitável do previsível adensamento populacional decorrente desse fenômeno, o bairro incorporou graves mazelas urbanísticas. Ali verificam-se engarrafamentos quase diários, o sistema de transportes é incapaz de atender à demanda, há um comprometimento ambiental que se reflete, principalmente, na poluição de boa parte do espelho d’água das lagoas, a rede sanitária ainda é insuficiente para dar conta das crescentes necessidades de residências e comércio locais.
São problemas que reclamam soluções nem sempre fáceis de serem adotadas, em razão não só da complexidade das intervenções já consolidadas, mas também porque exigem investimentos vultosos. Com a escolha daquela região para receber a parte mais substancial dos inversões com as quais o Rio se comprometeu para sediar as Olimpíadas de 2016, abriram-se novas oportunidades para a Barra. Desta vez, no entanto, a partir de um novo protocolo urbanístico, no qual o planejamento está no centro das transformações propostas (e necessárias).
Com isso, a Barra tem a chance de experimentar uma nova e mais racional forma de ocupação. É o que se vê, por exemplo, com a expansão e modernização dos sistemas viário e de transportes (construção de corredores seletivos de ônibus, os BRTs, obras para a chegada do metrô à região, projetos sólidos de instalação de equipamentos urbanos — inclusive aqueles que servirão aos Jogos Olímpicos e, depois, permanecerão como legados do evento para a cidade).
É dentro desse novo parâmetro de intervenções urbanísticos que devem ser avaliados os projetos de adaptação da Barra como território preferencial do Rio como cidade olímpica. A cidade não pode perder a oportunidade única de, ao mesmo tempo em que procura dar ordem ao caos da antiga ocupação desordenada, criar condições de explorar o grande potencial econômico — inclusive imobiliário — da região. São modos de intervenção que não se anulam; antes, podem se completar. Caso, por exemplo da área de 45 mil metros quadrados à entrada da Praia da Reserva, onde será instalado um complexo imobiliário, com um condomínio residencial e um hotel, obra prevista no Pacote Olímpico da Barra como parte dos estímulos oficiais para melhorar a rede hoteleira do município e atender à demanda que será gerada pelas Olimpíadas.
Construir não implica necessariamente fazê-lo pelo viés da predação. Ao contrário, quando há planejamento e racionalização do uso do solo, intervenções imobiliárias podem ser feitas com respeito ao meio ambiente e com projetos que equacionem demandas subsequentes — como transportes, rede sanitária e preservação da qualidade de vida.
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