BRASÍLIA - É inexorável em democracias estáveis -e em países idem- que parte da população se desinteresse pelos previsíveis processos eleitorais. Nos EUA, mesmo na atual crise, mais da metade dos cidadãos aptos a votar não dá bola para a escolha do presidente do país.
Uma eleição é parecida com uma reunião de condomínio. Vários moradores de um edifício simplesmente se recusam a participar desses encontros. Preferem imaginar que os outros farão a coisa certa. A tendência do ser humano à abulia é algo terrível, porém indisputável.
No Brasil, o voto é obrigatório. Essa anomalia sempre maquiou o tamanho da democracia do país. Só que parte dos eleitores já aprendeu a usar uma flexibilidade do sistema. O valor da multa para quem não vota é irrisório. Em geral, a cifra fica próxima de R$ 3,50. Para muitos, é um preço justo em troca de um domingo livre de filas em seções eleitorais.
Essa relativização da obrigatoriedade do voto no Brasil deve ser colocada na equação que explica as taxas recordes de abstenção registradas neste ano.
Há também uma assimetria entre o comportamento do eleitor e o destaque conferido às eleições municipais nas TVs e nas primeiras páginas dos jornais. Não é assim em outros países. Mesmo quando há disputa pelo comando de Nova York, o jornal "The New York Times" é parcimonioso ao abordar o assunto.
É um erro, entretanto, achar que o eleitor brasileiro está mais despolitizado. Na realidade, está mais exigente. A prova são as 50 cidades que amanhã realizam segundos turnos. É um recorde. As pessoas estão preferindo dar um calor nos políticos em vez de eleger alguém logo na primeira rodada.
Em suma, a política brasileira está em transição. Menos eleitores parecem se engajar no processo eleitoral. Mas quem fica dentro do debate demonstra estar mais atento.
E isso é muito bom.
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