FOLHA DE SP - 27/10
SÃO PAULO - Democracia é bom e eu gosto. Mas isso não significa que ela não tenha problemas. O fato de governantes se verem obrigados a buscar a chancela da população a cada quatro anos frequentemente conspira contra políticas e investimentos de longo prazo. Não deveria ser assim, mas infelizmente é.
A situação da saúde em São Paulo é um bom exemplo. Todo prefeito que chega já sabe de antemão que não conseguirá resolver os graves problemas estruturais do setor no horizonte de tempo de que dispõe.
Assim, a solução preferida por sucessivas administrações tem sido a de deixar a espinha do sistema mais ou menos como está e lançar novos produtos que permitem aos titulares não só colher frutos de marketing como ainda desvincular seus nomes da ineficiência da máquina antiga. A saúde é uma droga, mas nas XXXs do candidato Y é diferente, diz a propaganda. É assim que proliferaram PAS, AMAs, AMEs, PSF, OS, UPAs.
Se a estratégia faz sentido do ponto de vista do político, é contraproducente para o setor como um todo. Concebidos para funcionar de forma mais ou menos autônoma, esses serviços não se integram tão bem como deveriam ao sistema, resultando em desencontros e baixa resolutividade.
Pior, a fim de fazer com que seus lançamentos sejam um sucesso, prefeitos capricham. Médicos e funcionários são contratados com salários generosos, não faltam equipamentos etc. Isso seria ótimo, se não introduzisse distorções no conjunto, incluindo a autoconcorrência predatória.
As velhas unidades, onde se encontra parte significativa dos serviços vitais, como atendimentos terciários, salas de emergência etc., estão perdendo profissionais para as novas. A fim de não fechar as portas, gestores recorrem a acertos informais e gambiarras nas escalas.
O resultado final é, numa palavra, o caos. Para dar certo, a saúde teria de ser pensada e tratada como questão de Estado, não de gestões.
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