FOLHA DE SP - 04/10
SÃO PAULO - "Se o PCC tinha uma boca cheia de dentes, agora tem um dentinho ali e outro lá." Com essa frase, o então delegado responsável pela investigação do crime organizado em São Paulo, Godofredo Bittencourt, anunciou a falência da facção criminosa em novembro de 2002. Segundo ele, a organização tinha sido "desmantelada" pela polícia do governo Geraldo Alckmin.
São Paulo havia acabado de reeleger o governador e mal podia imaginar que, quatro anos depois, o "falido" PCC desencadearia três ondas de ataques, matando 43 agentes públicos e parando literalmente a maior cidade do país. Em plena segunda-feira, a população correu para casa tomada pelo pânico.
Pois bem, nesta semana, Alckmin voltou a minimizar a periculosidade da facção criminosa, dizendo que "há muita lenda" em torno dela. O PCC, de acordo com cálculos da sua Secretaria de Segurança Pública, é formado por apenas 30 ou 40 pessoas e a sua influência seria um "exagero" da mídia.
Considerando o histórico, ficam as perguntas: será que, de fato, o cenário é assim tão sossegado? Se o PCC é apenas uma lenda, o que explica então os 74 PMs mortos no ano, quase o dobro do verificado no mesmo período de 2011?
A própria polícia conseguiu, meses atrás, apreender documentos segundo os quais a facção conta com 1.343 criminosos em 123 das 645 cidades do Estado. E arrecada R$ 6 milhões por mês. Como uma organização tão insignificante consegue movimentar uma quantia dessas?
O PCC não é uma lenda, infelizmente, ainda que a polícia tenha, nos últimos anos, conseguido ferir a facção com uma política dura de enfrentamento. Dourar a pílula, no entanto, serve apenas para confundir o cidadão. O combate ao crime organizado precisa ser uma prioridade não apenas do governo, mas de toda a sociedade. E não há como envolver a população se ela não conhece a dimensão do problema.
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