O GLOBO - 17/09
Grandes empreendimentos de infraestrutura costumavam deixar saldos negativos depois de finalizados. Tais obras mobilizavam trabalhadores de diferentes regiões do país e, como muitas vezes eram interrompidas ou diminuíam de ritmo, operários e prestadores de serviços ficavam à espera de recontratação. Alojados em canteiros temporários, esses trabalhadores, ao serem desmobilizados, iam engrossar pequenas favelas locais ou se tornavam invasores de áreas públicas e particulares, se convertendo em fonte de problema para os municípios que os acolhiam.
Essa experiência gerou um certo trauma em relação a novas grandes obras e, para que os erros do passado não se repitam, o licenciamento de empreendimentos de infraestrutura ou de qualquer outro de forte impacto econômico é agora sempre acompanhado de medidas compensadoras rigorosas. As próprias empresas reviram suas políticas de contratação, privilegiando a mão de obra local, mesmo que haja necessidade de qualificá-la no decorrer da obra. Nas regiões onde a oferta de pessoal é reduzida, o percentual de "forasteiros" nesses empreendimentos tem se situado entre 20% e 40% .
No caso da construção da grande hidrelétrica de Belo Monte, na chamada Volta do Xingu, os programas sociais e ambientais na região exigirão dos investidores um desembolso de R$ 3 bilhões. E pela primeira vez em um empreendimento dessa envergadura os programas prosseguirão após a conclusão da usina, com previsão de gastos, a valores atuais, da ordem de R$ 500 milhões.
Com Belo Monte, a região terá a oportunidade de reassentar famílias que hoje vivem em áreas inabitáveis durante o período de cheia dos rios. Várias localidades terão escolas e postos de saúde reformados, além de vias de escoamento pavimentadas ou melhoradas. Ocorrerá também um necessário reassentamento fundiário.
A obra em si será forte geradora de renda para a população, seja pelas oportunidades de emprego (para homens e mulheres, com qualquer nível de escolaridade, ou até mesmo analfabetos), seja pela demanda de bens e serviços. Agricultores que não tinham para quem vender seus produtos passaram a contar com um mercado consumidor quase à sua porta.
Obviamente, existem também os impactos negativos. A oferta limitada de certos produtos ou de habitações em número suficiente para os que vêm de fora acaba elevando preços e aluguéis. Serviços de transporte podem ficar sobrecarregados, e o movimento que surge de repente causa transtornos a vilas antes pacatas.
Porém, para reduzir tais impactos negativos, esse processo tende a ser aprimorado, por exigência legal, iniciativa dos empreendedores ou vigilância da opinião pública local, nacional ou internacional, como acontece hoje com Belo Monte, para a qual estão voltados os olhares de todos aqueles que abominam, por razões ideológicas, qualquer obra de infraestrutura ou empreendimento que se faça necessário.
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