FOLHA DE SP - 17/09
SÃO PAULO - José Dirceu diz que não fugirá do país. À colunista Mônica Bergamo, lê-se hoje nesta Folha, afirma também que não pensa na hipótese de condenação, embora em outros momentos essa preocupação fique quase explícita.
Mais sutil, e significativo, foi o adendo a sua defesa: "Não é que não tem prova no processo contra mim. Fiz a contraprova. Sou inocente".
Após o ministro Luiz Fux ter verbalizado algo que o colegiado já vinha praticando neste juízo --diante de um circuito verossímil de evidências da acusação, não basta ao réu fixar-se na insuficiência de provas cabais, tendo de demonstrar seu álibi--, o discurso das defesas se ajusta.
Diante do teor das respostas já manifestadas pela maioria dos ministros do Supremo, é um exagero dizer que do destino de Dirceu depende a leitura histórica do julgamento do mensalão. Antes de as sessões começarem, as perguntas básicas eram se o esquema movimentou dinheiro público, se os empréstimos bancários serviam de cortina de fumaça para a corrupção e se houve compra de apoio político para o governo petista.
Sim e sim, decidiu a corte nos dois quesitos iniciais. Está marcado para começar hoje o capítulo --o primeiro envolvendo o ex-chefe da Casa Civil, acusado de corrupção ativa-- que tratará da terceira questão.
José Dirceu foi um dos melhores quadros políticos formados pela esquerda brasileira nos últimos 30 anos. O PT deve muito a ele, bem mais que a Lula, o fato de ter-se transformado numa fabulosa, disciplinada e enraizada máquina político-sindical, comparável, nas virtudes e nos defeitos, à social-democracia alemã do início do século 20.
Por isso, haverá algo de trágico ou de épico no julgamento de Dirceu, a depender do resultado. Inevitável será associar sua eventual condenação ao descomedimento que acomete homens lançados ao poder --e sua eventual absolvição à superação de provações, marca dos heróis.
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