O GLOBO - 17/09
Brasil está desperdiçando receitas bilionárias para o Tesouro Nacional e oportunidades de mais investimentos
Como as companhias de petróleo já presentes no Brasil estão secas por novas áreas para exploração, especialistas acreditam que só em bônus de assinatura o Tesouro Nacional poderia angariar o equivalente a US$ 1 bilhão se o país voltasse a licitar áreas, mesmo sob regime de concessão, fora da região onde se supõe existirem grandes reservatórios de óleo e gás, na camada do Pré-sal. Esse valor é estimado com base nas negociações de participações ocorridas em áreas já licitadas, e que se encontram nas fases de exploração ou produção.
Shell e Chevron venderam em 2011 e este ano participações em alguns blocos, sendo que num deles (exatamente no Pré-sal da Bacia de Santos), a companhia anglo-holandesa obteve a maior receita já registrada em uma transação envolvendo um bloco ainda na fase de exploração, antes de terem sido asseguradas grandes descobertas. Naquele momento pareceu um ótimo negócio, mas é possível que a Shell venha a se arrepender diante dos resultados da perfuração de um poço no prospecto conhecido como Carcará. À medida que a sonda foi perfurando a rocha a extensão do reservatório descoberto começou a se ampliar, com um óleo de excelente qualidade (32 graus API) e com a vantagem adicional de praticamente não haver CO2. Enquanto a média de CO2 nos reservatórios em blocos marítimos oscila de 40% a 50% - em Júpiter, bloco vizinho ao de Lula, esse índice vai a 90% - em Carcará não passou de 0,01%, o que facilitará muito o desenvolvimento do campo.
O volume de óleo recuperável nesse prospecto talvez ultrapasse os três bilhões de barris, o que o transformará em um dos maiores reservatórios de petróleo do Brasil. Um poço continua sendo perfurado para se avaliar a extensão vertical do reservatório (a coluna contendo óleo já passou de 500 metros), mas o entusiasmo da Petrobras com o bloco fica evidente pelo fato de Carcará já figurar nos planos de produção da empresa para 2016, mesmo antes de o campo ter sido declarado comercial.
A Shell vendeu seus 20% de participação para a Queiroz Galvão e a Barra Energia, cada qual agora com 10%. O bloco fica a 200 quilômetros da costa, na divisa de São Paulo com o Rio de Janeiro.
E não são apenas as companhias estrangeiras que têm negociado suas participações em blocos licitados em rodadas passadas. A própria Petrobras vem auscultando o mercado com o objetivo de vender participações em blocos, nos quais não é a operadora, com petróleo pesado, aproveitando o momento favorável para esse tipo de óleo (como várias refinarias mudaram seu perfil nos últimos anos, a demanda por óleo bem pesado aumentou e o produto até anda meio em falta). Com a venda de algumas participações a Petrobras levantaria recursos para acelerar a produção em reservatórios descobertos no Pré-sal.
Sem fazer marola
Como iniciou a produção este ano, no campo de Tubarão Azul (em águas rasas, na Bacia de Campos), a OGX, do grupo Eike Batista, deveria ser uma das estrelas da feira Rio Oil&Gas que começa hoje, no Riocentro, mas diante da repercussão negativa na Bolsa de Valores dos seus primeiros resultados, a companhia optou por uma presença mais discreta. A produção de Tubarão Azul tem superado cinco mil barris diários em cada um dos dois poços poços perfurados, o que é bem acima da média histórica das outras áreas com essa mesma lâmina d"água (cem metros de profundidade) na Bacia de Campos, da ordem de três mil barris/dia por poço. No entanto, a OGX previu que sua média poderia chegar a 10 mil barris por poço, e assim, agora na fase de produção, o que seria um ótimo resultado passou a ser visto como algo negativo pelos analistas financeiros. O mercado reviu por conta própria as projeções de produção da companhia (cortou pela metade, para 70 mil barris diários a previsão, para 2013) e isso se refletiu nos preços das ações da empresa, cujo valor total permanece na casa de US$ 9 bilhões. Nesse ambiente, a empresa não quer mais fazer marola.
Conteúdo nacional
A questão do conteúdo nacional de bens e serviços que as empresas petrolíferas precisam atingir em seus investimentos no Brasil, conforme compromissos assumidos nos contratos de concessão, continua a causar muita polêmica no setor porque os próprios fornecedores esbarram em dificuldades para adquirir componentes a um custo que seja competitivo. Um carretel para armazenar tubos flexíveis (usados para a ligação dos poços com as plataformas) custa no Brasil três vezes mais. Mesmo pagando os impostos de importação, as empresas conseguem trazer do exterior por um terço a menos. E não se trata de um item de sofisticada tecnologia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário