CORREIO BRAZILIENSE 14/09
Prestigiada pela presença de senadores de todos os partidos — até o líder do DEM, Agripino Maia, foi ao Palácio do Planalto lhe dar um alô —, o ingresso de Marta Suplicy no Ministério da Cultura ainda carece dizer a que veio em relação ao serviço que a senadora deverá prestar, além do eleitoral em favor do candidato Fernando Haddad. Ela chega apresentando como trunfo o fato de conseguido com que seus colegas de Senado aprovassem a emenda à Constituição que cria o Sistema Nacional de Cultura, com universalização de acesso a bens e serviços nesse setor.
A votação a toque de caixa na noite de quarta-feira foi providencial para tentar tirar a imagem de que Marta está ministra da Cultura só porque ingressou na campanha de Haddad. E o fato de a proposta ter sido aprovada a pedido da senadora, transforma a apreciação numa vitória pessoal dela. Resta saber se, como ex-deputada e senadora no exercício de um cargo executivo, Marta terá fôlego para fazer esse sistema deslanchar, pegar velocidade, uma vez que agora virá a fase mais difícil — a aprovação de projetos no sentido de regulamentar a proposta. É sabido que o Congresso quando aprova as tais propostas de emenda à Constituição (PECs) leva uma vida para regulamentá-las. E esse é um dos pontos que os artistas esperam da nova ministra, assim que terminar o período eleitoral.
Enquanto isso, em São Paulo...
Nos bastidores da posse, os políticos não falavam de outro assunto que não a eleição paulistana e as chances de Haddad. As últimas pesquisas indicam que José Serra, do PSDB, estancou sua curva descendente, estabilizando-se na casa dos 18%. Fernando Haddad apresentou uma curva de subida, mas, dentro do PT, há duas vertentes: a otimista acredita que ele permanece em ascensão, porém num ritmo aquém do desejado pelo partido. Os pessimistas dizem que ele estabilizou.
Para completar o quadro, Celso Russomano, do PRB, não entra em queda-livre, para desespero de Haddad e de Gabriel Chalita, do PMDB, que ainda tem esperanças de conseguir uma "onda boa" nessa reta final. Com tanto jogo pela frente, cada um monta a sua estratégia. Serra vai para a rua. Da parte do PT, há quem diga que nos próximos três fins de semana antes da eleição, Marta deva guardar os saltos altos no closet e se atirar na periferia, mesmo quando não houver a presença do candidato.
A principal tarefa da ministra nesse quesito será ajudar a retomar os votos petistas que não conseguem enxergar em Haddad o jeitão do partido. Em outras palavras, ela deverá pescar na cesta de Celso Russomano. Como fazer isso sem melindrar o aliado é a pergunta que os petistas têm feito a si próprios todos os dias. Na cabeça de muitos deles ecoa a ordem de José Dirceu, de não bater em Russomano para evitar que ele vire massa de pão — aquela que, quanto mais apanha, mais cresce. Nesse sentido, avaliam alguns, nada melhor do que Marta Suplicy para essa tarefa, especialmente, àqueles eleitores que aprovavam a gestão da ministra nos tempos de prefeita.
E no futuro...
Se Marta conseguir cumprir seus trabalhos, ficará com milhagem acumulada dentro do partido para outros vôos. Não por acaso houve quem dissesse que o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, não estava com aquela cara de felicidade toda estampada na face durante a solenidade de posse. Ele é o primeiro da fila para ser candidato a governador e, até então, tinha como maior adversário apenas o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, que, aliás, também foi à posse de Marta. Esses três, junto com o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, têm agora que mostrar serviço se quiserem passe livre para novos voos em 2014. Com um probleminha: se Dilma perceber algum ministro mais ligado em preparar campanhas futuras do que cuidar do presente, a porta da rua pode virar a serventia da casa. Mas essa é outra história.
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