Maioria dos consumidores das classes AB creem que produtos deveriam vir em versões para rico e pobre
O DELÍRIO do consumismo nos transforma em monstros difíceis de confrontar. Quem já não se surpreendeu na liquidação da loja X, Y ou Z da Champs-Elysées em luta corporal contra o oriental ou russo por um artigo de roupa pelo qual depois percebe que não teria valido a pena perder a vida? Pois é, eu também nunca me colhi nesse tipo de situação degradante, claro que não, só estou dizendo.
E quem nunca voltou com hérnia dos EUA de tanto carregar sacola? Também não é o meu caso, aliás nem sei de onde me veio a imagem.
E essa agora do programa do Jimmy Kimmel, na semana de lançamento do iPhone 5, em que, a fim de testar o grau de alucinação dos consumidores, jogou na mão do sujeito que passava na rua um iPhone 4 fingindo ser o modelo novo (bit.ly/QTt6yU).
As reações foram as mais engraçadas: "É mais leve", "Mais rápido", "A tela é maior". É da natureza humana fazer de tudo pelo brinquedinho novo, até se iludir, não?
Ainda mais peculiar foi a pesquisa do instituto Data Popular, que pintou no iG nestes dias, sobre a classe AB não estar gostando nadinha da ascensão da ralé.
O resultado atesta que 55,3% dos consumidores das classes AB creem que os produtos deveriam vir em versões "para rico e para pobre"; 49,7% preferem ambientes frequentados por pessoas do seu nível social; 48,4% acreditam que a qualidade dos serviços piorou com o acesso dos mais pobres;16,5% gostariam de ver gente mal vestida barrada dos lugares que frequentam e 26% dizem que a chegada de uma linha do metrô na região onde moram traria 'gente indesejada' para a área.
Não sei se o leitor se lembra (muito provavelmente não), mas questionei neste cantinho de céu há pouco tempo o que era preciso ter/ser para pertencer à classe gargalhada (AAA).
Acabei descobrindo que os institutos de pesquisas, esses horrendos laboratórios de análise que servem para desvendar os mecanismos que levam o consumidor a entregar a alma ao diabo do consumo utilizam um tal "critério Brasil" para efetuar suas medições.
O critério Brasil classifica as pessoas em relação à posse de bens no domicílio e ao grau de instrução do chefe de família, ou seja, a classe A não é avaliada por escolaridade ou poder econômico, mas por um mix das duas coisas. E não importa se estamos falando de uma periguete ou de uma velha encrenqueira como eu, sempre iremos medir quantas TVs, banheiros, refrigeradores etc estão disponíveis no local em que a criatura reside.
Ocorre que este critério não consegue mais refletir as diferenças entre as classes, já que todos estão consumindo parecido. E, para confundir ainda mais, o pessoal da classe AB geralmente se define como sendo da classe C, diz não ter dinheiro no fim do mês, mas compra na Sephora do shopping em um país em que a maioria não convive com esgoto. Uma bagunça dos diabos.
A graça de pertencer ao mundo do consumo reside na exclusividade. Quanto mais excludente for a minha compra, mais status terei. A "inclusão" é linda no discurso, mas na prática gera um incômodo enorme. Se todo mundo tiver bolsa Gucci, como vou me diferenciar? Terei de andar a cavalo na Andaluzia de madrugada com o adestrador da rainha Elizabeth? Ou, quem sabe, serei obrigada a fazer como meu amigo, que recentemente pagou uma fortuna para ser perseguido por um leão de verdade na África? No marketing, a experiência tem o nome de "storytelling". Quem se aventura a voltar da Manchúria contando que comeu cérebro de macaco?
E quem nunca voltou com hérnia dos EUA de tanto carregar sacola? Também não é o meu caso, aliás nem sei de onde me veio a imagem.
E essa agora do programa do Jimmy Kimmel, na semana de lançamento do iPhone 5, em que, a fim de testar o grau de alucinação dos consumidores, jogou na mão do sujeito que passava na rua um iPhone 4 fingindo ser o modelo novo (bit.ly/QTt6yU).
As reações foram as mais engraçadas: "É mais leve", "Mais rápido", "A tela é maior". É da natureza humana fazer de tudo pelo brinquedinho novo, até se iludir, não?
Ainda mais peculiar foi a pesquisa do instituto Data Popular, que pintou no iG nestes dias, sobre a classe AB não estar gostando nadinha da ascensão da ralé.
O resultado atesta que 55,3% dos consumidores das classes AB creem que os produtos deveriam vir em versões "para rico e para pobre"; 49,7% preferem ambientes frequentados por pessoas do seu nível social; 48,4% acreditam que a qualidade dos serviços piorou com o acesso dos mais pobres;16,5% gostariam de ver gente mal vestida barrada dos lugares que frequentam e 26% dizem que a chegada de uma linha do metrô na região onde moram traria 'gente indesejada' para a área.
Não sei se o leitor se lembra (muito provavelmente não), mas questionei neste cantinho de céu há pouco tempo o que era preciso ter/ser para pertencer à classe gargalhada (AAA).
Acabei descobrindo que os institutos de pesquisas, esses horrendos laboratórios de análise que servem para desvendar os mecanismos que levam o consumidor a entregar a alma ao diabo do consumo utilizam um tal "critério Brasil" para efetuar suas medições.
O critério Brasil classifica as pessoas em relação à posse de bens no domicílio e ao grau de instrução do chefe de família, ou seja, a classe A não é avaliada por escolaridade ou poder econômico, mas por um mix das duas coisas. E não importa se estamos falando de uma periguete ou de uma velha encrenqueira como eu, sempre iremos medir quantas TVs, banheiros, refrigeradores etc estão disponíveis no local em que a criatura reside.
Ocorre que este critério não consegue mais refletir as diferenças entre as classes, já que todos estão consumindo parecido. E, para confundir ainda mais, o pessoal da classe AB geralmente se define como sendo da classe C, diz não ter dinheiro no fim do mês, mas compra na Sephora do shopping em um país em que a maioria não convive com esgoto. Uma bagunça dos diabos.
A graça de pertencer ao mundo do consumo reside na exclusividade. Quanto mais excludente for a minha compra, mais status terei. A "inclusão" é linda no discurso, mas na prática gera um incômodo enorme. Se todo mundo tiver bolsa Gucci, como vou me diferenciar? Terei de andar a cavalo na Andaluzia de madrugada com o adestrador da rainha Elizabeth? Ou, quem sabe, serei obrigada a fazer como meu amigo, que recentemente pagou uma fortuna para ser perseguido por um leão de verdade na África? No marketing, a experiência tem o nome de "storytelling". Quem se aventura a voltar da Manchúria contando que comeu cérebro de macaco?
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