quarta-feira, setembro 26, 2012
Aperta que vai - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 26/09
As cotações das ações dos bancos despencaram ontem na Bolsa em reflexo ao anúncio feito pela direção do Bradesco, na véspera, de que cortará em mais da metade (de 14,9% ao mês para 6,9% ao mês) os juros cobrados no segmento rotativo dos cartões de crédito.
Esses 6,9% ao mês ainda são escorchantes. Correspondem a juros anuais de 123%, nível que também não tem justificativa técnica.
A decisão do Bradesco foi tomada sob pressão. Primeiramente, seus dirigentes sentiram no cangote o tacão do governo federal. Desde o dia 7 de setembro, a presidente Dilma Rousseff fulminava os bancos com críticas cortantes sobre o nível dos juros praticados no crédito rotativo dos cartões e nos cheques especiais. A retórica foi, depois, transformada em consequência, quando os dois maiores bancos estatais de controle federal - Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal - anunciaram fortes derrubadas nesses custos ao tomador. Desta vez, foi notável, também, o desentendimento entre Bradesco e Itaú sobre como reagiriam aos apertos federais.
As justificativas do diretor executivo do Bradesco, Marcelo Noronha, para a decisão tomada pareceram tão inconsistentes quanto as manifestadas anteriormente pelos seus dirigentes quando tentavam justificar os níveis da agiotagem então praticada. Ou eram descabidas antes ou passaram a ser agora.
Sem passar o recibo de que foi forçado a cortar os juros pela ação do governo, sob pena de graves perdas de participação no cobiçado mercado dos cartões de crédito, Noronha se limitou a reconhecer que "os bancos têm de fazer a sua parte e virar a página dos juros de dois dígitos no cartão de crédito". Disse, também, que a elevação da base de clientes e de transações com cartões de crédito e os ganhos de escala se encarregarão de recompor os resultados do banco.
Ontem, o Credit Suisse alertou os acionistas do Bradesco de que o volume de financiamento do cartão de crédito precisaria subir 40% para que o banco tivesse escala suficiente para compensar as perdas de receita que virá com o corte nos juros - como disse Noronha. Como todos os concorrentes também buscarão aumento de escala, parece inevitável que os altos lucros não voltem por aí.
A indústria de cartões está em expansão. Nos últimos cinco anos, cresceu em 85% o número de usuários para os 193 milhões previstos no final de dezembro. Nesse período, o volume de transações financeiras cobertas saltou 111% e seu faturamento, 169%.
Os cartões de crédito prestaram grande serviço ao País e aos bancos. Baixaram a necessidade de suprimento de papel-moeda e o uso de cheques, que exigem processos custosos de manipulação, transporte e compensação. Ampliaram a clientela bancária e automatizaram boa parcela das suas operações de crédito. Enfim, não só ajudaram a modernizar o sistema nacional de pagamentos, mas também a aumentar os negócios dos bancos.
No mais, é nova mostra de que é perda de tempo argumentar com os bancos. Cedem só sob pressão ou quando uma concorrência para valer começa a desmanchar seu jogo oligopolista. Ontem, o Itaú anunciou a redução dos seus juros.
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