quarta-feira, setembro 26, 2012

A revolução de Santos - JULIA SWEIG

FOLHA DE SP - 26/09


Em apenas dois anos, o presidente da Colômbia redirecionou a política externa da América do Sul


Que diferença um presidente pode fazer! Em apenas dois anos, o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, redirecionou a política externa para a América do Sul.

Forjou um modus vivendi com sua maior parceira comercial, a Venezuela, e uma trégua de retórica política com seu presidente, Hugo Chávez. Arrumou a bagunça criada por seu predecessor com o Equador, de Rafael Correa, e moderou a deferência de "melhor amiga" da Colômbia em relação aos EUA.

Forjou níveis inusitados de cooperação comercial, humanitária, de investimentos e de segurança com o Brasil. E, o mais positivo e inovador, deixou a ideologia de lado, substituindo-a pelo pragmatismo que procura resolver problemas.

Com índices de crescimento e classificações de investimento respeitáveis e com um muito cobiçado acordo comercial com os EUA, Santos está agindo para encerrar o conflito com o grupo armado mais antigo da América Latina, as Farc.

A desigualdade e a pobreza, a concentração das melhores terras nas mãos de financistas de cartéis e paramilitares, 3 milhões de colombianos deslocados dentro do país e a influência descarada dos paramilitares sobre o Congresso: esses problemas vão continuar presentes mesmo com a desmobilização e integração bem-sucedidas dos 8.500 soldados ainda restantes das Farc.

Santos agora considera que tirar as Farc do campo de batalha e do tráfico de drogas é um passo essencial para construir a vontade política necessária para fazer frente a essas divisões que ainda restam.

O presidente já pediu e aceitou ajuda de diversos atores externos. A Noruega tem um histórico de atuação nessa área -pense no processo entre Israel e a OLP- e vai sediar e pagar as negociações em outubro.

Notavelmente, o mesmo Chávez que o governo Uribe alegou ter dado refúgio às Farc e a seus negócios comerciais agora deixou claro ao grupo que é chegada a hora de aproveitar a oportunidade criada por Santos e sua "realpolitik".

É o mesmo Santos que, como ministro da Defesa de Uribe, impulsionou a decapitação do alto comando das Farc.

E há Cuba, país que ainda consegue guardar um segredo. Desde fevereiro de 2012, Havana sediou as discussões iniciais que prepararam o terreno para as negociações do próximo mês em Oslo e Havana.

Raúl Castro vem conservando perfil relativamente baixo na política externa, paixão do irmão Fidel.

Mas, usando o capital considerável de Cuba entre a esquerda latino-americana -armada e democrática-, Raúl posicionou Cuba como intermediária e "avalista" séria de negociações que possuem o potencial para encerrar o último conflito armado do século 20 na região.

Barack Obama vem aplaudindo o processo e guardando silêncio quanto ao papel de Cuba, dando espaço de manobra a Santos.

Num segundo mandato, ele poderia começar por pedir a seus amigos na América Latina -Santos, Dilma- que ajudem Washington e seu aliado acidental no processo de paz, Cuba, a estabelecer também eles uma negociação.

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