FOLHA DE SP - 05/09
Certos fatos indicam que o problema pode estar ligado à oferta, isto é, à nossa capacidade de crescimento
NÃO PODEMOS dizer que o resultado do PIB do segundo trimestre (aumento de 0,4% na comparação com o primeiro trimestre deste ano e 0,5% contra o segundo trimestre de 2011) tenha sido surpreendente. Ainda assim, decepcionou.
Mesmo que se materialize a reação mais vigorosa esperada para o segundo semestre, dificilmente a expansão do produto superará 1,5% neste ano, o pior resultado desde 2009, ano comprometido pela crise financeira.
É tentador imaginar que também agora o fraco desempenho do país possa ser atribuído à crise externa, cujos efeitos sobre mercados financeiros, assim como sobre o comércio internacional, têm sido mais que claros.
Tentador, porém equivocado.
Ao contrário do ocorrido àquela época, não há sinais de uma queda sincronizada da atividade. Na América Latina, região cujo comportamento tende a ser afetado por fatores comuns (por exemplo, os preços de commodities), não há como deixar de notar as diferenças.
Enquanto o PIB brasileiro cresceu 0,5% sobre o mesmo período do ano passado, o Chile mostrou expansão de 5,5%; o México, 4,7%; o Peru, 6,1% e a Colômbia, 4,7% (no primeiro trimestre).
Essa evidência não é, diga-se, a palavra final sobre o assunto, mas sugere que se busquem as raízes do anêmico desempenho pátrio em razões locais, nem tanto na crise internacional. Mas quais?
A reação imediata, por conta de uma longa experiência de crises, é atribuir a culpa à fraca demanda, mas, se a demanda interna não tem um desempenho sensacional, também não parece ser a fonte última da desaceleração.
Certos fatos, acredito, indicam que o problema pode estar ligado à oferta, isto é, à nossa capacidade de crescimento sustentado.
Caso seja verdade, trata-se de situação, se não inédita, ao menos rara na história econômica brasileira recente. Não consigo me lembrar, do alto dos meus quase 50 anos, de nada semelhante, à exceção do racionamento de 2001, quando as limitações na oferta de energia forçaram a redução do ritmo de crescimento.
Quem, todavia, olha com mais cuidado para os desenvolvimentos do lado do mercado de trabalho começa a notar fatos reveladores.
Apesar da baixa expansão do PIB no primeiro semestre de 2012 (0,6%), o emprego nas seis regiões metropolitanas cresceu 2%, ampliando o paradoxo de 2011, quando, a despeito do crescimento ter ficado na casa de 2,7%, o emprego continuou a crescer a um ritmo superior ao da população, levando a uma queda expressiva da taxa de desemprego (de 6,7% para 6%).
Dado o baixo crescimento da produtividade, mesmo taxas modestas de crescimento levam à redução persistente do desemprego, sugerindo que a oferta de mão de obra, seja em quantidade, seja em qualificação, se configura como o principal obstáculo ao crescimento, secundada pelo fraquíssimo desempenho do investimento, em particular em infraestrutura.
O sintoma mais claro disso é o aumento dos salários (ao redor de 11% relativamente ao ano passado), muito superior a qualquer estimativa honesta do crescimento da produtividade.
Posto de outra forma, não há como manter o ritmo dos últimos anos simplesmente porque não temos a mesma disponibilidade de mão de obra e também porque, à medida que empregamos trabalhadores com menor capacitação e experiência, é de se esperar que a produtividade se desacelere.
Caso essa hipótese seja verdadeira, duas são as conclusões. Em primeiro lugar, que políticas de expansão da demanda não conseguirão acelerar o crescimento sem agravar desequilíbrios macroeconômicos, em particular a inflação, que já vem se acelerando e assim continuará.
E, finalmente, que, se quisermos acelerar o crescimento do PIB, são necessárias políticas que favoreçam o aumento da produtividade.
A nota triste é que deveriam ter sido adotadas anos atrás para que seus efeitos se manifestassem agora, mas essa agenda, antes perdida, foi então abandonada e, de novo, corremos hoje atrás do prejuízo.
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