BRASÍLIA - Saí do trabalho pouco depois das 21h para jantar com uma "fonte" (no jargão dos jornalistas, pessoa que tem informações importantes), e estava voltando para casa já no início da madrugada, sozinha, dirigindo, quando percebi que um carro me seguia. Frio na barriga, pé no acelerador. Primeira curva, segunda, até concluir, na terceira, que a brincadeira estava ficando perigosa. Decidi frear, para que o carro seguisse em frente e me deixasse em paz. "Quem sabe não é um garotão fazendo 'pega'?"
Não era. O carro, um sedã caro, me ultrapassou e deu um cavalo de pau, trancando a pista. Dois homens armados com revólveres desceram. Um deles, bem jovem, gritando: "Sai do carro, sai do carro, se manda!".
Voluntariosa, minha mão direita engatou a ré. Mas o cérebro e o pé abortaram a ideia, que passou rápida, na velocidade da luz. Jamais reagir, diz o manual. É para sair do carro? Vamos sair. Agarrei o celular, abri a porta, virei de costas, aliviada por não me levarem. Já sofri sequestro-relâmpago, sei o que é.
Desta vez, não quis ver caras, placa, o modelo de carro, nenhum detalhe. Meu sentido de autopreservação venceu a minha (considerada imbatível) curiosidade jornalística.
Lá se foram eles, me deixando na rua, com frio, assustada, tentando agir, sem lembrar o número da polícia, mas martelando o que a gente vê todo dia nos seriados policiais americanos na TV: "Call 911". Qual é o "911" no Brasil, ou em Brasília? Sei lá. Acho que a gente não tem o hábito de chamar a polícia.
Horas antes, a filha do ministro da Pesca, Marcelo Crivella, tinha sofrido sequestro-relâmpago em plena hora do almoço, num local movimentado, improvável. E assim se descobriu que, de 13 a 19 de agosto, houve 16 crimes desses no DF.
A capital da República está perigosíssima, mas essa não é uma exclusividade dela. A violência no Brasil está fora de controle.
2 comentários:
à atenção do Painel do Leitor da Folha de Sao Paulo
Li o artigo "SE MANDA!" da Eliane Castanhede e como sempre muito bem escrito e inteligente. Todavia fiquei admirado que uma articulista do porte de Eliane, tenha descrito seu terrivel assalto com tanta "conformidade" e aceitação, como se não passasse de fato corriqueiro (o que nao deixa de ser) mas sem usar seu prestigio, sua inteligencia e sua divulgação entre milhares de assinantes para um manifesto ou uma maior atitude por parte do poder publico para que se iniba tais atentados contra nossa pobre e indefesa população.
Eugênio Barros
Preclaro Eugenio
Em minha nem tão modesta opinião discordo de vc em tres aspectos:
1. Se vc quiser fazer alguma comentario sobre qualquer coisa é um direito inalienavel seu, todavia, se seu comentario referir-se a um artigo, espera-se que vc mande o objeto de seu comentario junto com o mesmo. Tive que cavar no Blog do Mauricio, ou algo que o valha para localizar o tal artigo, segue abaixo
2. Acho sim, que ela ficou revoltadíssima com o que ocorreu com ela, deixa isto bem claro pelo susto que levou e outras coisas, inclusive ao final fala da ¨banalidade do mal¨, ao referir-se a pelo menos 16 crimes deste tipo em Brasiliade de 13 a 19 de Agosto, encerra com uma frase com sabor de definição absoluta: ¨No Brasil a violencia está fora de controle¨.
Acrescento: A temática: a banalidade do mal, que ela dá claramente a entender, foi profundamente explorada pela filósofa alemã Anna Arendt, em um livro clássico, que abordava o julgamento de Adolf Eichmann, nazista, capturado na Argentina por agentes da Mossad-policia secreta, e levado para Israel , apesar de todos os protestos inuteis dos argentinos. Adolf Eichmann era um coronel da SS, e um dos principais mentores e praticantes da ¨Solução Final¨, exterminio de todos os judeus das áreas ocupadas pelos nazistas, muito naturalmente era caçado pelos israelitas( Simon Wiesental). O encontraram placidamente trabalhando numa fábrica argentina. Seu julgamento em que ele só repetia que cumpria ordens e todo o entorno desta história, justificaram o livro da Anna. A propósito, foi mui justamente, condenado a morte pelos israelitas.
3. Não caberia a ela, até mesmo por ser uma jornalista séria e competente, vc o disseste, fazer do seu assalto, um artigo panfletario sobre a ineficiencia da policia brasileira ou da violencia flagrante que vivemos, ela o fez, a sua maneira. PA
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