segunda-feira, agosto 20, 2012

Caça à ineficiência - EDITORIAL FOLHA DE SP

Folha de S. Paulo - 20/08


Teto baixo da atividade econômica será rompido com aumento da produtividade, o que requer energia mais barata e menos impostos


Como previsto, a atividade econômica do Brasil iniciou uma fase de retomada na passagem do primeiro para o segundo semestre. Nada ainda indica, contudo, que o ritmo dessa recuperação redunde em alta do PIB acima da frustrante faixa de 1,5% a 2% em 2012.

Em junho, as vendas do comércio ficaram 6,1% acima de maio. O saldo de contratações com carteira assinada em julho ficou 1,4% acima do verificado em julho de 2011 -depois de ter caído 44% em maio, na mesma base de comparação.

O índice de atividade econômica do Banco Central (um precursor do PIB) cresceu 0,75% sobre maio, a melhor marca do ano. Mantida a marcha por 12 meses, o que é improvável, a produção subiria 9%.

Alguns vetores confluem para a retomada. A queda dos juros e da inflação prepondera entre os fatores gerais, macroeconômicos. É plausível que a desvalorização do real também venha ajudando a indústria nacional. Os incentivos para compra de automóveis destacam-se entre os estímulos setoriais.

A recuperação baseada no estímulo ao consumo, contudo, tem um teto -que agora ficou mais baixo, inviabilizando a repetição do efeito catalítico que a opção produziu contra a crise em 2008 e 2009.

A oferta de bens pela indústria local descasou-se a tal ponto do poder de consumo da população que a entrada de produtos importados, para suprir o aumento da demanda, se tornou um contrapeso importante a segurar o PIB.

Além disso, a alta do emprego e dos salários sustentada pela bonança anterior elevou o custo das empresas acima do que as vendas poderiam compensar. O resultado foi um estrangulamento geral de margens de lucro, que sufocou o investimento privado.

Daí a dificuldade de novos estímulos ao consumo, via crédito, impulsionarem a atividade como um todo. A única saída dessa sinuca, rumo a taxas mais elevadas de crescimento, é aumentar a produtividade da economia. Com a mesma quantidade de trabalho aplicada, o Brasil precisa produzir mais.

Como a melhora na infraestrutura prometida pelo plano de concessões ao setor privado não virá da noite para o dia, restam ao governo duas medidas cujo efeito seria imediato na produtividade do país.

A primeira é uma redução substancial nas tarifas de energia elétrica, aproveitando o vencimento das concessões de boa parcela do parque de geração nacional. A segunda é reduzir a carga tributária, de maneira escalonada e prudente, mas começando já.

Para isso, o governo e as estatais de energia terão de se tornar mais eficientes -o que não é difícil, diante da quantidade de gordura para queimar nesses segmentos.

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