segunda-feira, julho 02, 2012

Gestão versus eleição - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 02/07

O video preparado para mostrar que onde o PT governa dá certo traz imagens vencidas, como a exibição de Lula numa plataforma de petróleo. A estatal colocou refinarias na gaveta e o governo há anos não licita a exploração de novos campos

Talvez desde 2005, quando estourou o escândalo do mensalão do PT, a política não tenha um julho tão quente quanto o deste ano. Na montagem dos palanques municipais, suspenses até o último minuto em cidades da maior importância, como Belo Horizonte. Na gestão governamental, um poço de problemas. As complicações administrativas podem , inclusive, colocar em risco o slogan “onde o PT governa dá certo” enviado a todos os municípios de forma a massificar a mensagem do partido nesta temporada eleitoral. E em meio a tudo isto, germina a desconfiança entre os partidos da base aliada. 
Vamos por partes. A questão de Belo Horizonte mistura nesta segunda-feira suspense e desconfiança. O entrevero entre o PT e o PSB do prefeito-candidato Márcio Lacerda estará hoje na ordem do dia das executivas nacionais dos dois partidos. E não será tão simples de resolver quanto parece. O PSB considera que cumpriu sua parte no acordo de cavalheiros entregando ao PT a vaga de vice na chapa de Lacerda. O PT, entretanto, quer a aliança ampliada à chapa de vereadores da capital de Minas Gerais. 
A desconfiança mútua impera nessa queda-de-braço. Os socialistas consideram que a insistência dos petistas em compor uma chapa de vereadores conjunta faz parte de um jogo para que o partido de Lula tente reconquistar a prefeitura sem o PSB. Já os petistas acham que a resistência dos seus parceiros em compor uma chapa está diretamente relacionada a planos de independência do PSB. Não por acaso, o vice-presidente socialista, Roberto Amaral, atuou no fim de semana para afastar essas especulações e reforçar a política da boa vizinhança com o PT. 

Por falar em boa vizinhança...A aposta do PSB é a de que, passado o calor eleitoral em outubro, tudo voltará ao normal. Os partidos votarão os projetos de interesse da presidente Dilma Rousseff e a política caminharará para a próxima disputa, a presidencia da Câmara e do Senado, onde ficará claro interesse do PSB em respeitar a proporcionalidade, mantendo o apoio ao PMDB. “O PSB jamais deixou de cumprir a proporcionalidade e acordos fechados no Congresso”, afirmou o vice-presidente do PSB. 
A lembrança de Amaral é um sinal de que seu partido não pretende criar problemas futuros ao governo Dilma. Serve ainda para tentar restrignir as rusgas eleitorais ao campo municipal, cenário em que os partidos costumam colocar de lado os acordos nacionais e deixam correr solta a luta pela sobrevivência e ampliação de espaços. 
Mas não dá para achar que tudo ficará bem. Não dá para esquecer que o PSB e o PT concorrem entre si em 12 capitais, sendo oito no Nordeste. O PMDB e PT estão em palanques opostos em 11 e o PCdoB e os petistas em cinco. E confrontos deixam sequelas. Se incuráveis, só o tempo dirá. 

Por falar em tempo...O período do Congresso pré-recesso começa a se esgotar com uma pauta recheada de projetos polêmicos para o governo, como antecipamos aqui há alguns dias. Não por acaso, a presidente Dilma Rousseff determinou a todos olho vivo na Câmara e no Senado. Ela sabe que não dá para brincar ali. A prioridade é a economia. Mas o cenário também mexe com o PT. O partido não quer ver jogadas no lixo as imagens enviadas aos municipios como parte da campanha para incentivar o lançamento de candidatos próprios com o slogan “onde o PT governa dá certo”. 
Algumas imagens estão vencidas. Por exemplo, a exibição do ex-presidente Lula numa plataforma de petróleo. Em tempos de aumento de preço da gasolina, essa associação atrapalha mais do que ajuda. Pode remeter a falhas gerenciais do governo, à revisão dos planos da Petrobras. Não dá para esquecer que duas refinarias, lançadas com toda a pompa no governo Lula , foram parar na gaveta por absoluta falta de recursos. 
Para completar, o mesmo país que incentiva a compra de carros não realiza novas rodadas de licitações para concessão de novos campos de exploração de petróleo e gás. Está tudo parado desde 2008. Se somarmos a esse quadro as obras do PAC em câmera lenta, restará pouco para comprovar o slogan. Portanto, todo o cuidado é pouco na hora de deixar que os congressistas, por birra ou vingança, aprovem propostas que comprometam ainda mais o caixa da União. A nós, resta acompanhar essa vigília e a montagem final dos palanques nas capitais. Semana, sem dúvida, quente. 

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