FOLHA DE SP - 16/07
Quanto mais envolvido estiver o investidor, mais apto estará a identificar oportunidades
Que atire a primeira pedra quem nunca se frustrou ao buscar uma dica de investimentos aparentemente quente e, tempos depois, percebeu que fez uma péssima escolha.
Será que especialistas e imprensa especializada tentam ludibriar os menos experientes? Ou será que bons investimentos simplesmente deixam de ser bons quando pessoas comuns passam a optar por eles?
Aposte nessa segunda reflexão. Um bom investimento hoje provavelmente deixará de ser bom em um prazo não muito longo. Isso não é profecia, mas sim pura lógica econômica. Os melhores investimentos provavelmente serão as maiores causas de frustrações para desavisados, simplesmente porque oportunidades têm prazo de validade.
Ganho fácil é aquilo que chamamos de oportunidade, pois é improvável que, sendo fácil, dure muito tempo. Afinal, quanto maior a facilidade de ganhos que uma oportunidade traz, mais evidente ela é para empreendedores e investidores, e mais rapidamente atrairá interessados em aproveitá-la.
Quando muitas pessoas disputam uma oportunidade, ela se torna escassa e encarece, deixando de ser uma oportunidade. Em outras palavras, mostre-me um caminho fácil para ganhar dinheiro que eu consigo torná-lo difícil. Essa é uma reflexão essencial para quem lida com escolhas de investimentos e negócios.
Se muitos investidores disputam imóveis em uma região que se valoriza, a própria disputa gera escassez, que faz os preços dos imóveis subirem. Isso chama a atenção do mercado, atrai ainda mais investidores, criando preços desequilibrados, que em um segundo momento passam a despertar maior racionalidade e gerar desconfiança de que o desequilíbrio existe. Nesse momento, a oportunidade se esgotou.
Se os preços subiram demasiadamente, pode acontecer uma queda abrupta de preços, causando o que se chama de estouro da bolha. Se a alta não for considerada muito absurda, os preços simplesmente estacionam em um certo patamar ou entram em um processo de declínio gradual por falta de interessados.
Esse fenômeno acontece com todo investimento que se torna uma moda. Pode ser no mercado de imóveis, de ações ou de qualquer outro ativo. Segundo a lei da oferta e da demanda, tudo o que está na moda tende à saturação.
Por isso, uma das principais regras de sucesso de quem investe ou pretende investir é se envolver cada vez mais com o mercado em que negocia seus ativos. É importante acompanhar diferentes fontes de análise, frequentar eventos e cursos, trocar experiências com outros investidores e inovar na forma de estudar o desempenho da carteira de ativos.
Quanto mais envolvido estiver o investidor, mais apto estará a identificar oportunidades -as novas, e não as velhas que já estão perdendo força.
Isso não significa que não há saída para aqueles que têm pouca experiência com investimentos. A velha recomendação estratégica continua válida: quanto menor seu envolvimento com investimentos, mais conservadora deve ser sua carteira. Porém, com juros na casa de 8% ao ano e ganhos reais pouco acima de 2%, nem o mais conservador dos investidores deve se dar ao luxo de ter apenas recursos em renda fixa.
Os mais conservadores deveriam ter uma parcela pequena dos investimentos em mercados de renda variável, seja em ações, commodities ou pequenos imóveis, para poder sentir o oportuno desconforto do sobe e desce dos preços. Por que oportuno? Porque as quedas de preços nos incomodam.
O incômodo deveria levar o investidor a buscar mais informações sobre a perda que afeta parte de sua carteira, e essas informações o conduziriam a oportunidades ainda em seu estágio inicial. Daí viria o verdadeiro processo de enriquecimento, quando uma oportunidade de ganho fácil se mostra evidente e o investidor saca boa parte de sua renda fixa para comprá-la ainda barata.
Em tempos de juros baixos, oportunidades estão raras. Se você tem algo gerando resultados muito bons, tem em mãos um forte sinal de alerta. Pode estar chegando a hora de se desfazer desse ótimo ativo e buscar a próxima oportunidade.
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