FOLHA DE SP - 21/07
RIO DE JANEIRO - A notícia foi destaque há dias na página de ciência de "O Globo". Li-a duas ou três vezes sem entender, embora fosse clara, concisa e objetiva. O problema era a informação em si.
Dizia que, segundo artigo na revista "Nature", baseado num estudo de nove anos por um consórcio de geneticistas de 14 países, o DNA do tomate é mais complexo que o do homem. Mais exatamente: o genoma do tomate contém 31.760 genes, enquanto o nosso tem reles 24 mil e quebrados.
É verdade que, quando se trata de notícias ligadas a tomate, é bom abrir o olho. Há 29 anos, uma revista cujo nome omitirei (darei só as iniciais: "Veja") caiu num 1º de abril promovido por uma revista inglesa, que anunciou a criação do "boimate" -um cruzamento entre a carne de boi e o tomate, que estaria sacudindo os círculos científicos internacionais. A "notícia" saiu a sério na "Veja" e, desde então, passamos a desconfiar de tudo que se refira a tomate, inclusive comerciais de ketchup.
Mas, dessa vez, não há por que duvidar. Depois de nove anos de pesquisa, cientistas de 14 países escreveram e assinaram embaixo: o DNA do tomate é mais sofisticado que o nosso.
Francamente, não sei quem fica pior nessa história. O homem, por se ver diminuído por um vegetal cujo destino é ser servido em rodelas nas saladas e, espremido, tornar-se um extrato enjoativo para acompanhar macarrão. Ou o tomate, por ostentar esse potencial tão superior ao do homem e ainda não tê-lo ultrapassado numa série de quesitos -não que isso exigisse tantos genes a mais.
A informação só parece provar que o importante não é a quantidade de genes, mas o que se faz deles. Apenas nos últimos dias, o homem, com muito menos genes, produziu "Eu Quero Tchu, Eu Quero Tcha", a novela "Avenida Brasil" e a "jesuscidência" da Rosane Collor. Supere isso, tomate.
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