O ESTADÃO - 22/06
Essa pergunta é normalmente formulada por aqueles que se interessam pelo desenvolvimento saudável e estruturado da cidade de São Paulo e pela qualidade de vida de seus habitantes. Mas, ao ampliarmos a análise dessa questão, a pergunta mais adequada teria outra formulação: será a verticalização parte da solução para o equacionamento dos problemas da cidade?
Para responder a isso, todos nós, como sociedade, devemos considerar alguns aspectos fundamentais: teremos uma demanda de cerca de 30.000 novas moradias por ano na cidade; a não produção dessas unidades, na quantidade necessária, causará desequilíbrio entre oferta e demanda, o que resultará em inevitável aumento de preços, além daqueles efetivamente ligados aos custos de produção; e a localização dessas habitações na malha urbana poderá ser extremamente significativa para a questão da mobilidade.
Tais considerações nos remetem, pois, a outra indagação: como e onde produziremos 30.000 unidades habitacionais por ano na cidade de São Paulo?
Todos sabem que o crescimento da cidade, sem os devidos cuidados e planejamento, pode trazer sérias consequências para a qualidade de vida urbana. A solução mais simplista, porém destituída de embasamento técnico, seria meramente impedir a produção de novas unidades na cidade. O efeito colateral imediato dessa decisão seria transferir essa produção para municípios vizinhos. Todavia, sem a implantação de um complexo modelo de descentralização econômica ou uma total reestruturação do sistema de transportes intermunicipal, tal solução agravaria de maneira inaceitável o problema da mobilidade na cidade, impactando de modo severamente negativo a vida dos paulistanos.
Bem, se impedir a produção de novas habitações no Município não é a melhor solução, como então ofertar as unidades demandadas da forma mais adequada ao crescimento da cidade e com qualidade de vida? Primeiramente, é necessário entender o que seja "produzir da forma mais adequada ao crescimento da cidade". Em termos de mobilidade, o mais apropriado seria orientar a produção no sentido de diminuir ao máximo a necessidade de deslocamentos.
Infelizmente, não temos condições de promover em curto ou médio prazos os mais de 300 km de linhas de metrô necessários para suportar um aumento homogêneo nos diversos bairros do Município. Portanto, a alternativa é alterar o modelo de ocupação para eixos e polos que possam acomodar de forma racionalmente equilibrada as relações entre trabalho, lazer, estudo, moradia e sistemas de transporte.
Teríamos, assim, uma saída de fácil implantação. Entretanto, a cidade não dispõe de tais eixos e polos em número suficiente para que possamos acomodar a solução dessa equação.
Diante disso, é preciso aperfeiçoar os espaços que hoje temos disponíveis e, assim, promover o desejado desenvolvimento. Para tanto, não nos resta alternativa senão o adensamento, ou seja, ocupar o mesmo espaço territorial, por mais pessoas, ao mesmo tempo.
Quantas pessoas e quanto espaço? Já conhecemos a resposta a essa pergunta. Sabemos quanto vamos crescer e quanto espaço temos. Portanto, já sabemos o quanto teremos que adensar, agora e nos próximos anos. Adensar, seguramente significa verticalizar, mas não significa obrigatoriamente construir edifícios cada vez mais altos nem piorar a qualidade de vida na cidade. Existem formas de promover o mesmo adensamento em edifícios de menor altura do que aqueles que hoje produzimos. Inclusive, se adequadamente posicionados, esses novos edifícios poderão, na verdade, ajudar a cidade em termos de mobilidade.
Com o devido planejamento e visão de futuro, o adensamento pode responder a inúmeros problemas urbanos. Temos aí vários exemplos no mundo. A questão é considerá-los, adaptá-los e ajudar a melhorar a vida urbana. Afinal, todo problema enseja uma solução. Cabe ter boa vontade para encontrá-la. A verticalização não é ruim nem boa para a cidade, ela é parte da solução.
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