Com muita festa e boas intenções, reunião de poucos resultados deve deixar para 2015 o detalhamento de metas ambientais
A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, mais conhecida como Rio+20, foi aberta na semana passada com o esboço de um fracasso.
Não que se esperasse grande coisa dessa nova Cúpula da Terra, que tenta repetir os feitos da primeira, 20 anos atrás, a Eco-92 (ou Rio-92). Naquela oportunidade adotaram-se duas convenções (tratados) em que as nações se comprometiam a cuidar de duas ameaças ao ambiente global: mudança do clima e destruição da biodiversidade.
Nada de parecido surgirá no Rio desta vez. A fase de negociações diplomáticas sobre a declaração final da reunião terminou sem consenso; decisões, só a partir de quarta-feira, com os chefes de Estado.
Como de hábito em encontros multilaterais sobre ambiente, houve até aqui festa, exotismo, muitas boas intenções e pouco resultado. A falta de consenso entre delegações oficiais decorre dos mesmos impasses que travam a arrastada negociação sobre clima desde o Protocolo de Kyoto (1997).
O ponto nevrálgico, como sempre, é dinheiro. Países pobres e emergentes, reunidos sob o guarda-chuva puído do G-77, lançaram com estrondo sobre a mesa a proposta irrealista de um fundo de US$ 30 bilhões para o ambiente global, a cargo dos países ricos.
Foi, obviamente, recusado. Nenhum governo, da Europa aos Estados Unidos e ao Japão, em meio à grave crise econômico-financeira, tem condições políticas de justificar um gasto desse tipo perante os respectivos eleitores.
Ao contrário: se dependesse deles, seria arquivado o princípio oriundo da Eco-92 que fala em "responsabilidades comuns, mas diferenciadas": nações desenvolvidas enriqueceram e se beneficiaram antes com a deterioração do ambiente global; é justo que paguem mais por sua remediação.
Essa dicotomia entre "ricos" e "pobres", no entanto, já não faz tanto sentido, 20 anos depois. China, Índia e Brasil, pelo menos, tornaram-se países de renda média e seu desenvolvimento industrial contribui de modo significativo para ameaças como o aquecimento global. Insistir no prisma do conflito Norte-Sul não leva a lugar algum.
A Rio+20 já daria um grande passo se conseguisse produzir um elenco curto de metas ambientais voluntárias, cujo cumprimento, país a país e no seu conjunto, pudesse ser monitorado. Seriam objetivos como aumentar a participação de fontes renováveis na matriz energética mundial, reduzir as taxas de desmatamento e criar áreas de proteção do ambiente marinho.
A decisão de adotá-las pode até ser tomada no Rio, mas não serão detalhadas. Isso ficaria para 2015 -ou mais três anos de impasses.
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