FOLHA DE SP - 13/06
BRASÍLIA - A fórmula mais clássica para se livrar de uma acusação no reino da política é alegar desconhecimento de um fato. Funciona muito bem no Brasil e no mundo.
Ronald Reagan, nos anos 1980, negou conhecer a cabeluda venda irregular de armas para contrarrevolucionários nicaraguenses via Irã.
Fernando Henrique Cardoso dizia, em 1997, não ter notícia das traficâncias no Congresso para comprar votos a favor da emenda da reeleição. Compungido, Luiz Inácio Lula da Silva, em 2005, professou ignorância sobre o mensalão.
Essas negativas têm duas características em comum. Primeiro, são inverossímeis. Segundo, ninguém tem como desmenti-las. Inexistem provas. Daí a estratégia ser tão usada na política. Inclusive ontem pelo governador de Goiás, Marconi Perillo, do PSDB, durante seu longo depoimento à CPI do Cachoeira.
Com seu semblante sereno, o tucano repetiu a história a respeito da venda de uma casa em 2011. Recebeu R$ 1,4 milhão em três cheques emitidos por uma empresa suspeita de receber dinheiro irregular do esquema de Carlos Cachoeira.
Não ocorreu a Perillo perguntar quem era o emitente dos cheques. Vendeu o imóvel para uma pessoa, recebeu cheques de uma empresa esquisita e nada quis saber.
O governador goiano revelou seguir uma peculiar regra de etiqueta financeira: seria um "ato constrangedor e não usual abordar o interessado e exigir dele a declaração de onde vêm os seus recursos".
O experiente deputado Miro Teixeira duvidou: "Nunca vi alguém vender uma casa e entrar em tremenda fria". Perillo não piscou.
Fora da CPI, petistas lamuriavam que "não dá para acreditar" na versão de Perillo. Repetem os resmungos de tucanos sobre Lula ter negado conhecer o mensalão. No fundo, PT e PSDB cada vez mais se equivalem. Tanto nas acusações como nas desculpas esfarrapadas.
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